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Francisca Neri – presidente da Ascobetânia

O sol nem bem raiou e ela já está na cozinha preparando o café da manhã. Logo, logo o marido vai sair para o roçado, a filha pequena vai acordar e precisa de ajuda para se arrumar e chegar na creche antes das 07h e ela precisa correr para não perder a hora do trabalho.

Rotina pesada de Francisca Neri, 22 anos, agricultora e presidente da Associação dos Criadores de Ovinos e Caprinos do Município de Betânia do Piauí (Ascobetânia), no interior do Piauí. Filha de lavradores e com o ensino médio completo, Francisca conhece todos os caminhos do campo e representa o novo perfil da mulher sertaneja, que tem determinação e o foco para buscar espaços antes ocupados apenas por homens, e capacidade de liderança para alcançar cargos de comando.

Quando ela entrou para Ascobetânia, a predominância dos homens entre os associados chegou a assustar no início, mas o caminho estava aberto para uma grande oportunidade de crescer e tornar mais igual o engajamento de homens e mulheres no protagonismo das ações. “A Ascobetânia entrou na minha vida através da ideia de haver mais mulheres na associação. Quando eu cheguei era 94 homens e uma única mulher. Daí fui aceita e foi realmente assim um divisor de águas para mim”, revela. “Eles viram que eu realmente tinha o potencial de ajudar na administração, de estar junto à diretoria, pela minha experiência de organizar eventos na igreja e de ter trabalhado na rádio comunitária”, acrescenta Francisca. “E assim, logo no mês seguinte eu participei da eleição da diretoria e fui eleita a secretária das comissões.”

Francisca com a filha Marcela, de quatro anos

Ao passar pelas ruas da comunidade, Francisca é reconhecida e cumprimentada por todos e todas. Sempre que possível ela visita cada um dos associados e das associadas, não apenas na perspectiva do atendimento daqueles produtores, mas por ver nesses encontros uma maneira de aprender, e isso ela faz questão de ressaltar. “Porque todos nós lutamos pelo mesmo objetivo e a experiência que eu tenho adquirido em cada uma dessas reuniões que eu vou é de extrema importância para minha vida profissional e pessoal”, argumenta.

A trajetória para a realização profissional ainda está no começo, mas a cada degrau superado, Francisca sabe, que além do preconceito seus próprios desafios vão ficando para trás e ela mesma acaba se tornando referência para outras mulheres. “Assim como eu, todas as mulheres da Ascobetânia, tem vez e voz. Temos que aprender a erguer a cabeça e ir em busca dos nossos sonhos e saber que a cada dia é uma conquista diferente”, destaca Francisca.

“Cuidar da família, sim, mas por que também não se realizar profissionalmente?”, conclui. Hoje a Ascobetânia conta com outas seis mulheres que também buscam a realização profissional junto às suas famílias. Um número ainda pequeno, mas que enxergam em Francisca uma liderança comunitária e um exemplo a ser seguido, tanto, que ela, Francisca, foi eleita a presidente da Ascobetânia pouco mais de um ano após fazer parte da diretoria.