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Semear Internacional lança publicação sobre impactos da pandemia nas mulheres rurais

04/11/2021

O Programa Semear Internacional acaba de lançar, em formato de e-Book, o estudo Impacto da COVID-19 na vida das mulheres rurais no semiárido do Nordeste do Brasil, disponível aqui mesmo, no Portal Semear, na seção de Publicações, e em três versões: português, inglês e espanhol. O estudo foi realizado pelo próprio Semear Internacional, em parceria com o Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA) e com o Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA). Assim, a publicação traz a análise das respostas obtidas durante a realização da pesquisa e os resultados concluídos, que apontam para algumas recomendações que, postas em prática, poderão dirimir os impactos causados pela pandemia junto às mulheres rurais e às técnicas dos projetos apoiados pelo FIDA.

Desde o início da pandemia, alguns estudos foram realizados para a construção de alternativas que minimizassem os impactos causados pela pandemia. Especificamente sobre as mulheres, foram realizadas pesquisas que destacam os impactos que a pandemia gerou, especialmente no que se refere à sobrecarga de trabalho atrelada às tarefas domésticas e de cuidado. Embora tratem também das mulheres rurais, tais estudos não tiveram por objetivo focar suas análises nesse grupo social específico. É justamente nesse sentido que os resultados apresentados neste estudo pretendem contribuir, ou seja, na geração de conhecimento quanto ao impacto da Covid-19 em mulheres rurais, focalizado no Semiárido do Nordeste brasileiro. Para conformar essa pesquisa, foram entrevistadas 366 mulheres, técnicas e beneficiárias dos projetos apoiados pelo FIDA.

Quatro grandes temas de análise foram considerados para orientar a condução do estudo:

Tema 1 – Trabalho e Renda

O tema trabalho e renda é bastante explorado por pesquisadores em todo o mundo. Uma das pautas constantemente debatida e analisada é a execução desigual do trabalho doméstico e de cuidado, bem como a autonomia financeira das mulheres. As questões direcionadas às mulheres buscaram colher informações quanto ao tipo de atividade desenvolvida e a renda obtida, estratégias de comercialização adotadas e os impactos gerados nas atividades ligadas ao cuidado e ao trabalho doméstico. Tais perguntas buscaram parâmetros no período pré e pós o início da pandemia, de modo a iluminar os possíveis impactos nessa dimensão da vida social.

Tema 2 – Saúde e Relações Familiares

Com a quarentena, as famílias se viram obrigadas ao confinamento em suas residências, fato que reflete na saúde e nas relações familiares, outro tema que a pesquisa focou. Toda a situação imposta, em conjunto com o receio de contrair a doença, podem ter gerado consequências que afetaram a saúde das mulheres. Foram, então, exploradas questões voltadas aos processos de interação e organização social, diagnóstico de doenças ocorridas durante a pandemia e formas de tratamento e, de maneira mais subjetiva, questionamentos quanto às emoções e sentimentos aflorados pelo contexto pandêmico.

Tema 3 – Violência Doméstica

A violência contra mulheres e crianças é o terceiro grande tema abordado. O distanciamento físico e a reclusão em casa proporcionaram, de maneira geral, o aumento de casos de violência dentro dos lares brasileiros, tendo em vista o maior tempo de convívio com o agressor. Pretende-se, com a realização desta pesquisa, entender qual a percepção dessas mulheres sobre o assunto e suas possíveis causas, bem como sobre a existência de casos próximos, ou mesmo sofrido por elas.

Tema 4 – Segurança Alimentar e Nutricional

Por fim, ao abordar o tema da segurança alimentar e nutricional, buscou-se compreender quais foram as mudanças ocorridas na alimentação da família e na produção para o consumo familiar. Como é sabido, na divisão sexual do trabalho são as mulheres que ficam com a responsabilidade de produzir e preparar os alimentos para toda a família. Essa tarefa tende a ter ainda mais peso com as crianças e idosos em casa por conta da pandemia e as dificuldades impostas para a utilização dos canais convencionais de comercialização.

Principais resultados

A pesquisa apontou, por exemplo, que 74% das entrevistadas avalia que houve diminuição da renda familiar durante a pandemia, contra 7% que afirma um crescimento dessa renda, em razão dos novos canais de comercialização. Foi observado que, antes da pandemia, a renda média era de R$ 1.053,00, tendo decrescido hoje para R$ 810,00, ou seja, uma queda de 30%. Dentro do universo das beneficiárias, 69% acessou o auxílio emergencial fornecido pelo Governo Federal e 97% informou que houve aumento nos gastos durante a pandemia, principalmente com alimentação, energia, gás de cozinha, água e medicamentos. Outras três fontes de rendas principais foram, nessa ordem, o Bolsa-Família, a aposentadoria e a agricultura familiar.

Ainda entre as mulheres entrevistadas, 26% desenvolveu algum tipo de doença, como estresse, ansiedade, depressão, dores musculares, síndrome do pânico e sequelas da COVID-19, mas apenas metade delas conseguiu atendimento médico-hospitalar. Numa relação analítica direta com o Novo Coronavírus, 56% delas teve, pelo menos, uma pessoa próxima contaminada, e 95% delas afirmou que pretendia se vacinar. No tocante ao labor remunerado, 29% iniciou outras atividades ao longo a crise pandêmica, sobretudo com trabalhos não-agrícolas, como artesanato e confecção de bolos, doces e marmitas. Como as feiras livres convencionais sempre foram o principal canal de comercialização, um quarto das mulheres rurais se manteve sem realizar a venda de seus produtos ao longo da crise sanitária, apesar de os negócios pela Internet terem ganhado espaço – 28% considera que houve melhora nos canais de comercialização.