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Projeto DAKI – Semiárido Vivo é lançado com investimento do FIDA

18/08/2020

*texto adaptado a partir de informações da Assessoria de Comunicação da ASA.

Com investimento do FIDA – Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola, foi lançado hoje, 18 de agosto, o Projeto DAKI, cujo objetivo é aproximar três regiões da América Latina que convivem com a dificuldade de acesso à água de qualidade: o Semiárido brasileiro, o Gran Chaco da América do Sul e o Corredor Seco da América Central. Para realizar o projeto, foi firmada uma parceria entre o FIDA e duas redes que atuam nas áreas secas do continente: a Articulação Semiárido Brasileiro (ASA) e a Plataforma Semiáridos. A iniciativa irá identificar, sistematizar e compartilhar práticas bem sucedidas e capacitar técnicos e agricultores para que acompanhem a transição de um sistema agrícola convencional para um sistema resiliente ao clima.

A sigla DAKI significa, em inglês, Dryland Adaptation Knowledge Initiative, que pode ser traduzida, em português, para Iniciativa de Conhecimento sobre a Adaptação às Terras Secas. E no Brasil, o nome do projeto ganhou ainda um complemento: DAKI – Semiárido Vivo. O custo total da ação é de quase US$ 2 milhões. Deste total, o FIDA financia 78% e as organizações executoras cobrem os 22% restantes como contrapartida. Cerca de 8 mil pessoas serão beneficiadas – 2 mil de forma direta e 6 mil de forma indireta, com a difusão das estratégias de convivência das regiões escolhidas com suas dificuldades e seus potenciais, principalmente face ao atual agravamento das crises sanitárias, ambientais, climáticas e alimentares.

Na avaliação de Claus Reiner, Diretor País para o Brasil e Chefe do Centro de Conhecimento e de Cooperação Sul-Sul e Triangular do FIDA, apoiar trabalhos isolados nessas áreas semiáridas do continente implicaria numa perda enorme de oportunidades. “As experiências técnicas, econômicas e sociais que os projetos do FIDA estão desenvolvendo numa área podem servir como insumo de alto valor em outras áreas. Dessa maneira, o desenvolvimento pode ser mais diversificado, mais sustentável e mais rápido”, assegura.

Além das duas redes que articulam o projeto, a Articulação Semiárido Brasileiro (ASA) e a Plataforma Semiáridos, cada país envolvido na ação possui uma organização da sociedade civil que ancora a sua execução. No Brasil, a Associação Programa Um Milhão de Cisternas (AP1MC), responsável pela gestão física e financeira das ações da ASA; na Argentina, a Fundação para o Desenvolvimento da Justiça e Paz (Fundapaz); e, em El Salvador, a Fundação Nacional para o Desenvolvimento (Funde). “Estas parcerias colocam a ASA em um patamar que permite, por meio das experiências das organizações da sociedade civil, interferir e influenciar na política pública dos países latinos. Isso sem contar as parcerias com as universidades e centros de pesquisa, como a Embrapa, no Brasil, e o Inta [Instituto Nacional de Tecnologia Agropecuária], na Argentina”, assegura Antônio Barbosa, coordenador do Daki – Semiárido Vivo.

“O DAKI apresenta uma oportunidade inestimável de conhecer e compartilhar experiências e aprendizados de comunidades rurais, camponesas e indígenas da América Latina. Sem dúvida, esses conhecimentos são uma riqueza enorme para outras comunidades do continente que estão em busca de opções que lhes permitam desenvolver meios de vida resilientes e sustentáveis, e, acima de tudo, viver em condições de dignidade humana”, destaca Ismael Merlos, diretor de Desenvolvimento Territorial da Funde. O coordenador do projeto e representante da ASA acrescenta que o Daki vai priorizar as experiências não pelas suas técnicas, mas pelos impactos delas em cada região. Barbosa explica que “uma das fortes intenções do projeto é provocar uma mudança no campo da gestão”. As pessoas capacitadas serão responsáveis por transmitir o conhecimento a outros técnicos e agricultores.

Áreas secas da América Latina

As regiões selecionadas estão entre as mais pobres de cada país. No Brasil, a região Nordeste é a área semiárida mais populosa do mundo e abriga 59,1% de todos os brasileiros em extrema pobreza (9,6 milhões de pessoas). No Nordeste, estão 32,7% dos municípios com alta vulnerabilidade alimentar e nutricional do Brasil. Na Argentina, a região semiárida do Chaco tem 80% de seus moradores na pobreza, com alta incidência de pessoas desnutridas, uma das consequências da fome. É no Chaco que se concentra a maior quantidade de comunidades indígenas da Argentina, com nove grupos étnicos diferentes, compostos principalmente por comunidades de caçadores-coletores. Como os índices sociais estão intimamente ligados aos ambientais, o Chaco ostenta também a maior taxa de desmatamento da Argentina.

Nas áreas do Corredor Seco de El Salvador, 2,2 milhões de pessoas vivem em situação de pobreza e vulnerabilidade climática. Deste total, 54% dependem da produção de grãos básicos – milho e feijão – como principal meio de subsistência. A pobreza afeta particularmente os setores mais vulneráveis e tradicionalmente excluídos da sociedade: povos indígenas, crianças, jovens, mulheres e idosos. Cerca de 38% da população jovem rural (de 18 a 35 anos) está em situação de pobreza, sendo altamente afetada por crimes e violência. 42% do total de mulheres nas áreas rurais são pobres, sendo as mais atingidas pela falta de emprego e pela violência doméstica.