Da soma de criatividade e experimentação surgiu o terreiro aéreo, tecnologia que capta água no Semiárido por meio de uma lona presa em estacas, de forma inclinada, por onde escorre a água da chuva captada. Simples de fazer e de reaplicar.
A ideia se deu a partir da observação da natureza e da necessidade de armazenar mais água para os períodos de estiagem. O que motivou o agricultor experimentador José Nobre, o inventor da tecnologia, foi a ideia de que seria possível potencializar a atuação da cisterna calçadão que tem em sua propriedade.
Com o terreiro aéreo, Seu Zé Nobre e sua esposa, Dona Josefina, aumentam as formas de captar e armazenar água para regar a horta e dar de beber aos animais.
“Os vizinhos acham um pouco estranho, mas todo mundo vê que não é mentira minha, porque eles veem a água caindo, veem que eu utilizo a água. Se alguém quiser é só chegar pra mim que eu ensino com o maior prazer, sem cobrar nada”, diz o experimentador.
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O agricultor José Nobre vive com sua esposa, dona Josefina de Souza Brandão, em Nossa Senhora da Glória, Semiárido de Sergipe. São 25 anos de casados e muitas experiências acumuladas no sertão.
José Nobre (Seu Zé Nobre) e Josefina de Souza Brandão (Dona Josefina)
(79) 998-09-1852
Seu Zé Nobre, como é conhecido, conta que é agricultor desde os sete anos de idade. Dona Josefina, por sua vez, sempre morou no roçado.
Juntos, multiplicam saberes no campo e buscam dar vida às invenções do agricultor, criativo de mão cheia. Da natureza, vem a sua inspiração.
O casal vive da agricultura familiar agroecológica, produzindo alimentos para o consumo. O excedente é comercializado na sede do município, já que Zé Nobre é cadastrado como produtor orgânico na feira local.
O terreiro aéreo funciona como um escorregador, por onde a água da chuva escorre para um recipiente, um tanque ou a própria cisterna.
A água cai na lona, que precisa ser resistente, escorre pelo cano, como numa bica, e cai no local desejado.
Seu Zé diz que até mesmo o sereno e a neblina condensados geram algum volume de água que é captado pelo terreiro aéreo.
Seu Zé Nobre também montou seu próprio sistema de irrigação, a partir de canos de água que saem das cisternas e caixas d´água que passam por toda a propriedade. A água desce das caixas por gravidade, economizando energia elétrica.
Ao abrir a torneira, a água cai direcionada para onde quiser. Se mudar de área, ele fecha o registro anterior e abre o da área seguinte.
No cano (em algumas áreas são mangueiras), fez uns furinhos para gotejar e amarrou um pano por cima para a água sair devagar, sem desperdício.
O primeiro passo é escolher o lugar para instalar o terreiro aéreo. O segredo, conta Zé Nobre, é observar de onde vem a chuva e colocar a lona na posição de receber a água.
Escolhido o local, o experimentador definiu as dimensões da tecnologia, desenhando esboços em um papel. “Tenho que procurar captar água para minha sobrevivência já que estou no Semiárido. Traço num caderno os desenhos e coloco no seu devido lugar. Depois, vou melhorando cada vez mais”, explica.
Em seguida, é preciso estar com materiais necessários à construção: toras de madeiras encontradas na propriedade; arame; canos de PVC, alguns cortados no meio e usados como calhas e lona de carroceria.
A lona de Zé Nobre tem 70 metros, mas a medida pode variar. O importante mesmo é ela ter qualidade e ser resistente. Seu Zé, por exemplo, conta que a primeira lona não resistiu e rasgou. A indicada por ele é a de carroceria, que aguenta sol quente, água e vento.
É chegada a hora de cavar os buracos para fincar as estacas de madeira – com cerca de um metro de distância entre elas. A altura pode variar, mas é preciso que a lona fique inclinada. A ideia é montar uma espécie de escorregadeira, para que a água possa escorrer.
O próximo passo é colocar a lona por cima, usando o arame para prendê-la às estacas.
Pronto. Com o terreiro montado, use o arame também para prender canos partidos no meio ou as calhas no pé da lona.
“Não tem como dá problema. É só trocar a lona se acontecer alguma coisa. Eu estimo que posso usar ela por dez anos, dependendo da qualidade”, afirma Zé Nobre.
Para irrigar:
O sistema de irrigação montado por seu Zé Nobre é simples e funciona muito bem, segundo o agricultor. Experimente!
1º. passo – Deixe as caixas d’água em uma parte alta do terreno ou em uma torre para que a água desça por gravidade;
2º. passo – Instale registros na saída das caixas d’água e de outras fontes onde deseja controlar a vazão, como uma cisterna por exemplo;
3º. passo – Tenha em mãos canos ou mangueiras grossas e faça diversos furinhos (algumas mangueiras já vêm furadas);
4º. passo – Encaixe canos e mangueiras uns nos outros, de modo a cobrir toda a área que desejar irrigar. Pronto!
Com o terreiro aéreo, aliado a outras tecnologias, eles conseguem driblar as dificuldades da estiagem e melhorar a qualidade de vida.
O terreiro aéreo tem permitido ao casal captar mais água para produzir e criar animais.
Agora, eles podem viver do que produzem, se alimentando de forma saudável e cuidando do meio ambiente.
“Hoje tenho minha horta com gotejamento com custo baratinho porque não usa energia. É só encher a caixa. Depois traz a água com gravidade. Poupei agua e energia”, diz o agricultor.
Antigamente, Seu Zé Nobre e Dona Josefina só contavam com o barreiro para pegar água.
Já nessa época, quando chegaram ao sítio onde vivem hoje, o agricultor matutava ideias para melhorar de vida. Uma delas foi colocar um pneu no alto de um paredão, simulando um tanque de água a partir de uma conexão de canos por baixo do pneu. A água chegava à residência do casal por meio da gravidade.
Em 2012, a situação da família começou a melhorar graças à conquista da cisterna calçadão por meio do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2), da ASA – Articulação Semiárido Brasileiro. A partir daí, Seu Zé e Dona Josefina passaram a ter condições de captar um volume de água maior.
O agricultor quis mais. Ele foi além e pensou numa estratégia para potencializar a água da chuva. Assim surgiu o terreiro aéreo, tecnologia utilizada há três anos pelo casal.
As ideias de Seu Zé têm dado certo. Com a água coletada, o agricultor passou a plantar seus alimentos e criar animais. Na propriedade do casal tem milho, feijão, abóbora, frutas, hortaliças e criação de animais como galinhas, patos e vacas leiteiras.
O quintal recebe o nome de “floresta produtiva” e reúne hortaliças, plantas medicinais, frutas e verduras, além de arbustos maiores e plantas nativas da Caatinga para preservar a vegetação local, proteger o solo e garantir sombreamento.
Para alimentar animais, tem o roçado, com mandacaru e palma. Tudo por lá é feito de forma agroecológica.
Entre outras tecnologias que podem ser encontradas na propriedade de Zé Nobre está o biodigestor, que gera gás de cozinha e biofertilizante.
Esta experiência conta com o apoio do Centro Dom José Brandão de Castro (CDJBC).
Contato:
Centro Dom José Brandão de Castro (CDJBC)
(79) 3259-6928
http://www.cdjbc.org.br
cdjbc@cdjbc.org.b