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B Boas Práticas na Convivência com o Semiárido

Gestão das Águas
Sistema integrado de reservas d’água
O que é

Encontro das águas! Foi seguindo o fluxo delas em suas terras que Seu Heleno, pouco a pouco, montou um sistema de captação e reserva de águas, composto por cisternas, tanque e cacimbão. Com esse complexo, é possível armazenar até 115 mil litros de água e fazer uma melhor gestão desses recursos no sítio onde vive com sua esposa, Dona Branca.

Para aguar a plantação, o casal utiliza técnicas simples de irrigação por gotejamento com garrafas plásticas e mangueiras.

Além dos reservatórios, a família investe no replantio da mata nativa e em técnicas como o barramento, feito no sentido contrário ao caminho das águas, que impede que a água da chuva corra com muita velocidade na terra, diminuindo a erosão e ganhando mais tempo para penetrar no solo.

Seu Heleno avisa:

É sempre a natureza quem mostra o caminho que se deve seguir.

Municípios Atendidos




Experimentador
Heleno Bento de Oliveira (Seu Heleno) e Francisca Marte dos Santos (Dona Branca)

Heleno Bento de Oliveira é nascido e criado no Sítio Parquetina, em São José do Sabuji, no Semiárido da Paraíba.

É lá que vive com a esposa Francisca Marte dos Santos, conhecida como Dona Branca, na Comunidade Lagoa do Brejinho.

Fale com o Experimentador

Heleno Bento de Oliveira (Seu Heleno) e Francisca Marte dos Santos (Dona Branca)
(84) 999-12-4221

Informações sobre a experiência

Ele concilia o trabalho na agricultura com a função de Agente Comunitário de Saúde na sede do município.

Produz para consumo e também para a venda na feira, além de criar animais como galinhas, porcos e gado.

Seu Heleno é casado com Francisca Marte dos Santos.

Dona Branca, como é conhecida, é agricultora e professora aposentada – lecionou durante 25 anos. Além disso, se ocupa das atividades domésticas.

Como funciona a experiência

Nas terras de Seu Heleno e Dona Branca, a captação da água da chuva é feita de forma sequencial por meio do sistema desenvolvido pelo agricultor, por meio da observação da natureza.

Ele é composto por cinco cisternas (sendo uma delas a cisterna calçadão), um tanque de pedra (Seu Heleno chama de tanque de lajedo) e um cacimbão. Com esse complexo é possível armazenar até 115 mil litros de água.

Cada tecnologia armazena água para uma atividade: as três cisternas ao redor da casa são usadas nas atividades domésticas, a cisterna calçadão é para a produção de alimentos e o tanque de pedra e os cacimbões são utilizados na produção de alimentos para os animais.

As tecnologias são interligadas por meio de canos e mangueiras, facilitando a transferência de água dentro do terreno.

Técnicas simples de irrigação por gotejamento com garrafas plásticas, mangueiras e potes de barro confeccionados com esterco para irrigação das plantas também são utilizadas.

Garrafas plásticas servem para irrigação de salvação, enquanto potes de barros são colocados em um buraco escavado próximo à planta e preenchidos com água.

Ao redor das frutíferas de Seu Heleno, por exemplo, têm 10 potinhos, que são porosos e furadinhos. Algumas raízes naturalmente se direcionam para os potes; outras, não.

O recipiente armazena a água que cai da chuva e vai “soltando” a água para o solo.

As raízes das plantas, naturalmente, vão se espalhando em busca do lugar que esteja mais molhado. “Aí vai formando tipo uma rede embaixo do pote”, ilustra Seu Heleno.

Ele explica que trabalha de forma sistêmica, seguindo os princípios agroecológicos: “se a gente pensa em trabalhar com agroecologia pensa num sistema integrado de toda a biodiversidade.”

Para a manutenção do sistema, ele conta com apoio dos dois filhos e do cunhado.

Dona Branca, sua esposa, também é agricultora familiar e também atua na manutenção das cisternas, além de manter a farmácia viva.

Tudo é planejado para que o roçado e os animais convivam em harmonia.

Implementar

“Primeiro, a pessoa que vai praticar a agroecologia, tem que ter paciência e uma visão diferente e persistir, né? Não desistir”, ensina Seu Heleno.

E ele continua: antes de qualquer coisa, é importante observar os caminhos que a água percorre na propriedade, para identificar tecnologias adequadas para aquela área, respeitando os fluxos da natureza.

Seu Heleno, por exemplo, foi pouco a pouco construindo um sistema agroecológico de manejo dos recursos naturais com a captação de água da chuva de forma sequencial (cisternas, tanque de pedra e cacimbas).

Além disso, adota técnicas de conservação dos solos com barramentos para conter a erosão (feitos com pedras e plantas nativas), e aposta na produção de alimentos para o autoconsumo (banco de sementes, diversidade, práticas orgânicas) e em práticas de rotação e manejo da mata nativa para preservação e criação de animais.

Com base na sua experiência, alerta: a escolha das tecnologias deve considerar as condições locais e as necessidades da família, “porque não adianta plantar muito e depois faltar água”.

Nesta experiência, as calhas que fazem a canalização da água da chuva para as cisternas são feitas com zinco e algumas partes com PVC. Para fazer o barramento, foi preciso agave (sisal) e pedra.

Foram utilizadas também ferramentas como alavanca e picareta.

É bom escolher um local apropriado para a construção das cisternas de placas. Vale lembrar que em solos com grande porcentagem de barro a dificuldade de construção dessas tecnologias é maior, pois com as chuvas esses solos cedem.

Mão de obra qualificada (cisterneiros) e materiais de construção (cimento, ferro, arame, cal, vedacit, zinco, conexões, tubos, brita e areia) contribuem para que a implementação ocorra de forma correta.

Tem também o tanque de pedra. “O tanquinho já existia antes de eu nascer, só que era só uma partezinha embaixo de uma pedra. O pai aumentou, mas não tinha as paredes.
Quando a necessidade aumentou, me veio na ideia de descobrir esse lajedo todinho e subir essas paredes de pedra, para evitar da água trazer a terra pra dentro, e fazer uma calha que faz o direcionamento da água da chuva para dentro do tanque. Se cair 10mm de chuva, tem água pruma semana.”

Nesse melhoramento que seu Heleno fez no tanque de pedra construído pelo pai, ele tirou águas das terras que corria por dentro e fez umas paredes em volta (barragem).

Além dos reservatórios de água, ele investe no barramento, feito no sentido contrário ao caminho das águas.

Quando chove, a água corre na terra com menos velocidade, reduzindo a erosão e ganhando tempo para penetrar no solo.

Para fazer um barramento, é simples. Amontoar pedras ao redor do curso d’água, usando o formato da própria pedra para fazer os encaixes já ajuda.

É bom também experimentar: “A gente teve a criatividade de fazer com pedra e planta porque era o que mais tinha, mas as barraginhas podem ser feitas com pneus, estacas de madeira ou qualquer outro material reciclado”.

E possível até fazer uma ramada, que é uma espécie de ramo de folhas, enterrando duas estacas de madeira e, nelas, trançando outras plantas. Fica parecendo uma pequena cerca.

“Se você constrói uma ramada, ela vai se decompor muito rápido. Mas se você deixar nascer plantas naquele local, as raízes vão sustentar a terra”, explica Seu Heleno.

O agricultor completa: ¨Onde tem o mato, a terra não vai embora. Onde nasce um pé de planta, impede o arrasto da água”.

Entre as dicas para manutenção, estão:

– ter mais de uma opção para a irrigação, por exemplo, gotejamento, potes e reuso;

– manter a pintura branca das cisternas para evitar rachaduras provocadas pelo sol;

– nunca deixar os reservatórios de água completamente secos, para evitar que rachem;

– só usar a água das cisternas quando não tem mais no tanque nem no cacimbão.

Adiantou de quê?

“A água que era tão distante; hoje nós temos no terreiro de casa”. A fala de Seu Heleno já sinaliza: a mudança foi grande. Dona Branca concorda.

O solo do sítio está cada vez melhor e a mata nativa cada vez mais preservada.

Antes do complexo, a família de Seu Heleno precisava andar dois quilômetros para pegar água.

Hoje, não precisam nem do carro pipa, pois têm muita água armazenada.

Com a captação de água da chuva e o trabalho de conservação do solo, a família começou a ter excedente e passou a vender para vizinhos e feiras da região.

Hoje têm qualidade de água e produção agroecológica de frutas, vegetais, hortaliças e leguminosas.

É possível encontrar também animais criados na propriedade da família.

“Melhorou demais. Mudamos os hábitos alimentares, a segurança alimentar, comemos sem agrotóxico”, diz Dona Branca.

Desenrolar da História

A região onde vive a família de Seu Heleno foi, durante décadas, explorada com o monocultivo de algodão.

Mas, em 1985, o bicudo do algodoeiro dizimou toda a plantação e acabou com a fonte de renda das famílias agricultoras.

“As pessoas deixaram de plantar algodão, mas passaram a cortar lenha pra vender pras cerâmicas. O que terminou de acabar com as terras. O mato que temos aqui nativo é só a jurema preta, que nasce com facilidade em qualquer terra”, conta o agricultor.

Esse processo trouxe o abandono do campo, a degradação dos solos, a desertificação e a escassez de água.

Naquela época, seu Heleno trabalhava com o pai na monocultura de algodão e também como diarista em terras vizinhas.

Em 1994, com o falecimento do pai – Seu Heleno toma posse da terra, uma área de cinco hectares.

Passou, então, a implantar técnicas para melhorar as condições ambientais e o uso sustentável dos recursos naturais com o objetivo de manter a produtividade na propriedade.

Resistiram e, desde então, a família vem adotando diversas práticas agroecológicas, como o manejo da Caatinga para preservação do solo e a produção de estacas e forragem para os animais, além de técnicas de conservação de solos com o barramento.

Mesmo antes de herdar a terra do pai, o agricultor já havia começado a criar estratégias para armazenamento de água, por conta da situação difícil que vivenciavam.

Na década de 1980 enfrentaram uma estiagem de cinco anos. Na ocasião, Seu Heleno decidiu por conta própria construir sua primeira cisterna para armazenar água da chuva, com capacidade para 10mil litros – que hoje integra o sistema de captação e armazenamento de água que criou.

Ele recorda que no começo os vizinhos lhe diziam: “água de cisterna não presta, isso fica água velha, a água fica choca”.

O agricultor retrucava: “Pode até estragar a água, mas se ela tiver sujeira, porque o que estraga a água não é a água em si, é a sujeira que tem na água. Se ela for tratada, ela não vai estragar.”

Em 2003, a família recebeu a cisterna do programa P1MC, com capacidade para 16mil litros.

Em 2007, mais mudança. Seu Heleno e família construíram, com recursos próprios, a segunda cisterna de placas, com capacidade de 32 mil litros.

Em 2014, a família foi contemplada com uma cisterna calçadão com capacidade de 52 mil litros para a produção de alimentos.

Tinha início assim o sistema que Seu Heleno vai definir como “esse complexo de cisternas, tanque e cacimbão que permite que tenha água, que ela se junte e que passe de uma pra outra”.

Nas terras de Seu Heleno e Dona Branca tem também banco de sementes, rotação e manejo de mata nativa para preservação e criação de animais; hortaliças, leguminosas, frutíferas e plantas medicinais. Tem até reciclagem.

“Aqui, só deixamos o que é orgânico sobre a terra e vendemos uma parte do lixo reciclável”, explica o agricultor.

Quem apoia

Esta experiência conta com o apoio do Centro Semear, em parceria com a Ação Social Diocesana de Patos, via Programa de Promoção e Ação Comunitária (Propac).

Contato:

Centro Semear
(83) 3423-2206

http://www.centrosemear.org

Ação Social Diocesana de Patos/ Programa de Promoção e Ação
Comunitária (Propac)
(83) 3423-2206

http://www.asdppb.org

asdpcomunicacao@gmail.com / propac@uol.com.br