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B Boas Práticas na Convivência com o Semiárido

Produção Agroecológica
Sementes Crioulas

A garantia de sementes e os equipamentos necessários para produção, trouxeram mais tranquilidade para a comunidade Malhadinha, em Sergipe.

 

 O que é?

A “Integração Sementes e Liberdade” é uma ação das famílias do Projeto de Assentamento Francisco José dos Santos (PAFJS), em Sergipe. E por que Liberdade? “Liberdade quer dizer que temos sementes e trator pra plantar na época certa, sem precisar ir buscar fora ou depender do governo.”

A iniciativa trabalha com a produção de boas sementes crioulas e alimentos de base agroecológica. Essa iniciativa de sustentabilidade social e ambiental com as famílias assentadas, para além das ações de segurança alimentar, é também um trabalho de resgate das culturas do assentamento.

 

Onde aconteceu?

  

O Projeto de Assentamento Francisco José dos Santos (PAFJS), fica localizado na Comunidade Malhadinha no município de Poço Verde, no estado de Sergipe.

 

Como aconteceu?

Tudo começou com a criação do assentamento, no ano de 2008, que beneficiou, então, dez famílias. Logo, a equipe de Assistência Técnica do Centro Comunitário de Formação em Agropecuário Dom José Brandão de Castro (CFAC) e a coordenação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) iniciaram mobilizações das famílias para a necessidade de produzir sem o uso de agrotóxicos.

Foram identificados vários guardiões e guardiãs de sementes no assentamento de comunidade vizinha pela Ater, que promoveu intercâmbios, seminários, cursos, dia campo e visitas técnicas. Rapidamente, as famílias perceberam a necessidade de constituir uma entidade jurídica para poder buscar parcerias junto a diversos órgãos, de maneira a consolidar este objetivo: um projeto de produção agroecológica e de armazenamento de sementes crioulas.

 

Como implementar?

A Associação Comunitária em Agropecuária do Projeto de Assentamento Francisco José dos Santos foi fundada em 2015, e conta, atualmente, com 42 sócios.

Para o seu desenvolvimento, foram feitas parcerias com a Articulação do Semiárido Brasileiro (ASA). O consórcio desenvolveu projetos de construção de duas cisternas e concretizou, ainda, a construção de uma casa de sementes.

Também se constituiu parceria com a Companhia de Desenvolvimento de Recursos Hídricos e Irrigação de Sergipe (Co-hidro), através da qual foi construída uma barragem; além do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), para a Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater).

Assim, se criaram parcerias ao longo dos anos para desenvolver diversas ações. Dentre estas se destaca a produção e armazenamento de sementes crioulas, como uma forma de garantir independência no sistema de produção.

 

Resgatando antigos saberes e colhendo novos frutos.

À esquerda, produção agrícola na comunidade; à direita, trator adquirido através de recursos FIDA.

 

O resgate desses saberes das sementes crioulas possibilitou a diminuição da dependência das famílias dos atuais pacotes tecnológicos das grandes empresas. Pois, além de dispensar a compra de sementes, exclui o uso de agrotóxicos.

Com esse trabalho no assentamento, foi possível resgatar diversas variedades de sementes crioulas. Dentro delas se destaca a semente de melancia forrageira, que está sendo cultivada por vários assentados(as), que estão tendo na melancia uma das principais fontes de suporte forrageiro para o sistema de criação do rebanho.

Nesse processo, em ração do déficit hídrico na safra de 2018, houve uma perda das sementes crioulas, parte das sementes cultivadas não se desenvolveu, perdendo-se, em alguns casos, 95% da produção. Por isso, o município entrou no Programa do Governo do Estado Garantia-Safra.

Para o ano de 2019, a colheita permitiu pouca reserva da produção que se destinaria para a semente. Com parcerias dos movimentos sociais MST e o Movimento Camponês Popular (MCP), o Governo do Estado de Sergipe destinou 30% do recurso para a compra de sementes crioulas dos agricultores familiares que serão adquiridas para o plantio de 2019, garantindo a continuidade desse trabalho no assentamento.

Em parceria com a Secretaria de Estado da Agricultura, Desenvolvimento Agrário e da Pesca (Seagri), o Assentamento Francisco José dos Santos (PAFJS) foi contemplado com o Projeto Dom Távora, financiado pelo FIDA e pelo Governo do Estado. Através do Projeto houve investimento produtivo visando fomentar a sustentabilidade ambiental e a geração de renda, além da identificação dos guardiões de sementes, como também o fortalecimento e disseminação das casas de sementes crioulas.

 

O que mudou?

O conjunto de ações promovido pelo Projeto Dom Távora tem como objetivo fomentar a sustentabilidade ambiental e a geração de renda. Apoiando o desenvolvimento produtivo por meio de investimento em ovinocultura, implantação de palma forrageira, aquisição de um trator equipado e implementos agrícolas. Com isso, algumas mudanças foram observadas no assentamento, vejamos:

  • A conservação e o resgate das sementes crioulas no assentamento foram fortalecidos com a concretização do Projeto Dom Távora, com o investimento em gestão de conhecimento tradicional.
  • A construção de silos de superfície – amontoado de forragem picada, compactada e coberto por lona plástica segura por terra – para armazenamento de volumosos está sendo uma alternativa para todos os criadores, pois toda palha de milho é triturada e aproveitada, com isso se melhorou o suporte forrageiro no local.
  • Através de trabalhos coletivos, com a utilização de esterco proveniente da criação de aves, ovinos e bovinos em seus lotes individuais, a comunidade assegurou uma produção sustentável.
  • A aquisição de um trator e de implementos agrícolas contribuiu para facilitar o preparo do solo. Mais que isso, o maquinário agrícola possibilitou a semeadura na época certa, pois esse trabalho era sempre prejudicado devido à dependência de trator e equipamentos externos para o preparo do solo e plantio.
  • O trabalho de sustentabilidade social e ambiental com as famílias assentadas vem sendo um trabalho de resgate das culturas do assentamento, que hoje realizam a prática do plantio consorciado de diferentes culturas: milho com feijão, milho com melancia forrageira, milho com capim e feijão-de-corda com capim.
  • A renda bruta da família teve aumento mensal de R$ 400,00 com as produções dessas culturas. Cada família economizou na compra de sementes de milho, feijão, horas/máquina e implementos agrícolas no valor de R$ 650,00 nos meses de abril a julho.
  • As variedades das sementes existentes no assentamento, também aumentaram, e hoje são: feijão carioca, feijão-de-corda, fradinho, feijão branco, milho taquaral, milho raio de sol, milho catingueiro, melancia forrageira e palma forrageira.
  • A comercialização vem, inicialmente, ocorrendo nas feiras livres dos municípios de Poço Verde e Tobias Barreto, no estado de Sergipe, e por meio de atravessadores.
  • Por intermédio da Campanha Nacional de Abastecimento (Conab), o governo vem valorizando as sementes crioulas. O quilo de feijão alcança R$ 12,50, enquanto o quilo de milho custa R$ 8,67. A produção direcionada para a semente crioula é capaz de agregar renda, pois os preços de comercialização são mais elevados que os aplicados aos grãos, devido a necessidade de beneficiamento e uso de técnicas no manejo da produção.
  • A Casa de Sementes hoje serve como garantia. Quando sofrem com problemas climáticos, como a falta de chuva, ou caso uma safra seja prejudicada, os assentados podem contar com as sementes estocadas para recuperar a produção.

O trabalho do resgate de sementes crioulas rendeu grandes conquistas para o Projeto de Assentamento e adjacências. Foi o cultivo de sementes crioulas que estimulou as famílias a reduzirem e até a eliminarem a aplicação de agrotóxicos no solo, gerando um ganho ambiental e econômico.

 

Quem faz a experiência?

Essa é a experiência do Assentamento Francisco José dos Santos (PAFJS) em Poço Verde/SE.