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B Boas Práticas na Convivência com o Semiárido

Produção Agroecológica
Produção de flores

Produção de flores no município de Areia/PB

 

O que é?

Buscando alternativas para permanecer no campo e gerar renda, um grupo de jovens do município de Areia, na Paraíba, decide criar uma associação e iniciam a produção de flores.

Firmando parcerias, fortalecendo a organização comunitária e as lideranças locais de jovens e mulheres, além de adotar práticas de proteção ambiental agroecológicas, o grupo se consolida mais a cada dia, e passa também a explorar o turismo rural, já presente na região. Com isso, recebem visitantes para compartilhar os conhecimentos na área de produção de flores e seus derivados, bem como para a venda destes produtos no mercado regional (feiras livres de Areia, Remígio, Esperança e Alagoa Grande).

 

Onde aconteceu?

O Projeto Flores Vila Real da Associação de Desenvolvimento de Macacos e Furnas ADESMAF (Grupo de Mulheres Produtoras de Flores), fica localizado no município de Areia, estado da Paraíba.

 

Como aconteceu?

O Projeto Flores Vila Real começou graças à iniciativa de um grupo de jovens que decidem fazer da produção de flores sua principal atividade econômica.

No ano de 2004, sete jovens da comunidade Tapuio do município de Areia, após concluírem o ensino médio, começaram a discutir sobre a permanência e a geração de emprego e renda, assim surge a ideia de organizarem-se em torno de uma associação.

Assim, em 2005, com treze membros é registrada a Associação de Desenvolvimento Sustentável de Macacos e Furnas (ADESMAF). Entre as várias ideias, eles resolvem trabalhar com a produção de flores com o intuito de incrementar a renda da família e diminuir o êxodo rural.

“(…) nessa época a gente não sabia mais o que fazer, a gente já tinha feito tudo… Estava todo mundo indo embora. Foi aí que a gente começou a plantar as flores e coisa foi mudando. Foi aí que a gente criou a associação”, conta a Presidente da Associação, Dona Maria.

Com esse começo, pensando em viver do campo e no campo, eles começam a buscar parcerias que possam tornar essa ideia possível.

 

Como Implementar?

Aqui vamos conhecer melhor todo o percurso trilhado por esses jovens, que se juntaram, organizaram o empreendimento e fizeram acontecer.  Vamos lá?

No mesmo ano em que criaram a Associação, ainda em 2005, a Secretaria de Municipal de Agricultura de Areia levou até a comunidade o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) para conhecer a produção de flores da comunidade. Neste mesmo ano, com o apoio do SEBRAE, oito mulheres participaram da ExporBrasil em Fortaleza, onde tiveram a oportunidade de conhecer vários tipos e formas de produzir flores. Na bagagem trouxeram cinco mudas de cravinas ornamentais e comestíveis, que ao chegar na comunidade foram multiplicadas para 60 mudas.

De posse dessas mudas, elas conseguem R$ 300,00 reais com a prefeitura e constroem a primeira estufa artesanal. A partir de 2006, a constituição de novas parcerias foi fundamental para o desenvolvimento do projeto. Inicialmente contaram com o apoio da prefeitura municipal e do SEBRAE e passaram a vender as flores na feira livre da cidade de Areia. Neste momento decidiram não gastar o dinheiro e investir em mais mudas e na compra de vasos, decisão que provocou tensão entre associados/as que queriam receber os lucros e terminaram se afastando, e os que entenderam que era momento de investir.

Ainda em 2006, seis associadas realizaram estágio remunerado, durante quatro meses, na Universidade Federal de Paraíba (UFPB). Neste período elas estagiaram nas estufas de flores. No ano seguinte (2007) a associação foi contemplada por um projeto do CNPq que dentre os objetivos tinha a construção de duas estufas artesanais. Esse projeto possibilitou a ampliação da produção de flores da associação e a entrada de recursos, que foram investidos na compra de vasos e novas sementes.

Em 2008, alguns membros da associação com o apoio da prefeitura de Areia e do SEBRAE, participam da principal feira e exposição de flores do Brasil em Holambra no Estado de São Paulo. Lá elas conheceram uma variedade ampla de flores, e tiveram a oportunidade de adquirir e receber doações de sementes e mudas de flores, a exemplo das cactáceas e suculentas, as quais passam a ser produzidas e vendidas pela associação no mesmo ano.

No ano seguinte (2009), participam do salão paraibano do artesanato. Este momento é importante porque possibilitou dar mais visibilidade às flores produzidas por elas, ampliando as vendas e os mercados. A partir do salão do artesanato passaram a vender as flores em um shopping da capital. Ainda em 2009, a produção de Lisianto muda a história da associação, pois esta variedade de flor adapta-se muito bem ao clima, favorecendo a ampliação das vendas.

Com o avanço de suas atividades produtivas, algumas associadas buscam formação, e ingressam em cursos superiores ou técnicos em agronomia e agropecuária.

 

A comunidade apresentando a sua experiência para um grupo de visitantes.

 

Depois de tanta dedicação, conseguem novas parcerias.

Em 2010, após visita realizada pelo Embaixador da Holanda e sua esposa na associação, articulada por um professor da UFPB, elas apresentaram a flor Lisianto ao casal e um projeto de ampliação das estufas. No mesmo ano a associação foi contemplada com o repasse de R$ 58.000,00 mil reais feitos pela Embaixada Holandesa. Com os recursos elas construíram quatro estufas e compraram vasos e mudas. A contrapartida foi a produção de sete mil mudas a serem doadas a comunidades, bem como a realização de quatro cursos em parceria com a UFPB.

Em 2012-2013 a associação foi contemplada pelo edital submetido ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o SEBRAE, em parceria com o governo do estado através do projeto COOPERAR e conseguiram recursos para comprar as telas das estufas e um caminhão para escoar a produção da associação. No auge da produção em 2013 elas chegaram a produzir 5.000 mudas por mês, gerando uma renda total de cerca de R$ 12.000,00.

Estas mudas são vendidas nas feiras livres de Areia, Remígio, Esperança e Alagoa Grande, cidades que compõem a Rota Cultural Caminhos do Frio, que é um circuito de festas onde são apresentadas as potencialidades dos municípios com destaque para o artesanato e gastronomia.

Outro importante mercado para o empreendimento é o salão do artesanato que acontece duas vezes por ano, entre janeiro e fevereiro na capital João Pessoa, e em junho, durante as festas juninas na cidade de Campina Grande, eventos que duram, em média, cerca de 30 dias.

Recentemente, a Associação, junto com a Prefeitura Municipal de Areia, criaram o “Festival das Flores de Areia” que já está na sua segunda edição, e vem contribuindo para dar mais visibilidade a essa produção. Outro projeto, o “Uma Rosa na Janela”, que a Prefeitura Municipal de Areia vem executando desde 2017, contribuiu significativamente com a visibilização da produção de flores. Segundo as integrantes da associação, à época do lançamento do projeto elas venderam mais de 2.000 vasos de flores.

Com essas e outras ações, passaram a explorar cada vez mais o Turismo Rural como fonte de renda para a Associação. Hoje, o Projeto Flores Vila Real recebe, mais ou menos, quatro visitas por mês.

O grupo está tentando ampliar o leque de produtos derivados das flores, a exemplo do plantio de pimentas, gastronomia, sobretudo, confeitaria, chás feito com flores, flores comestíveis para incorporar aos circuitos turísticos que têm como base a visita à produção, venda e degustação dos produtos, bem como a realização de oficinas sobre o plantio e cuidado com as flores.

Nessas oficinas os visitantes aprendem a produzir mudas, conhecem as estufas de produção, formas de cultivo e armazenamento para, por fim, terem a opção de comprar diversas variedades de flores. Os recursos da associação provém da taxa paga pelos visitantes, bem como pela venda das flores, seja no próprio local ou as vendas que são feitas em outros pontos de mercado.

 

O que mudou?

As ações desenvolvidas pelas parcerias (Prefeitura Municipal de Areia, SEBRAE, UFPB, Governo do Estado) estabelecidas pela associação geraram mudanças na comunidade a partir do momento que inserem a produção de flores como uma nova atividade econômica. Vejamos algumas dessas mudanças:

  • Incrementa-se a renda da família, alterando a organização da comunidade a partir da constituição da associação. Como afirma a presidente da ADEMASF, Dona Maria “(…) antes era muito difícil, quando a gente crescia, a única alternativa era ser empregada nas casas na rua ou ir embora. Depois das flores, tudo mudou por aqui. É só você olhar. Dá para ver. Não temos muito. Mas somos felizes. Hoje, tem gente plantando flor em casa, com horta, fazendo artesanato, revendendo as flores, fazendo comida, servindo almoço. Tudo depois das flores”.
  • A iniciativa das mulheres potencializou o empreendedorismo e o protagonismo feminino. A gestão liderada pelas mulheres foi o caminho adotado para transformar a realidade local, que tinha como característica a fragilidade econômica e o êxodo rural.
  • No entanto, junto com as mudanças vieram algumas dificuldades, segundo Dona Maria, a principal delas foi o pouco conhecimento das técnicas de produção de flores. A decisão de produzir flores foi embasada nos gostos pessoais das mulheres da associação, e em modelos produtivos externos (a região é conhecida como grande produtora de flores), mas sem uma análise de viabilidade ou mesmo de competências produtivas e disponibilidade de terra para o plantio. Porém, com o apoio dos parceiros que facilitaram o acesso a um terreno em comodato, e às técnicas de plantio e produção, essas dificuldades foram sendo superadas.
  • As estufas passaram a fazer parte do circuito dos turistas que visitam o projeto, permitindo-lhes conhecer a produção, vivenciar algumas técnicas produtivas em oficinas de produção de mudas e comprar diretamente da produtora, encurtando assim as cadeias produtivas.
  • Hoje o projeto conta mais de 101 espécies de plantas, algumas delas sendo de produção exclusiva e modificada geneticamente.
  • O envolvimento principal no Projeto Vila Real continua sendo majoritariamente das mulheres da associação com incipiente participação de outros membros da família. E hoje, além do Projeto Vila Real existem pequenas áreas produtivas individuais nas propriedades das associadas onde é possível verificar, de maneira incipiente, a produção de flores e mudas.

A iniciativa se destaca pelas ações voltadas ao fortalecimento comunitário, possibilitando a constituição de uma associação, inicialmente composta de jovens mulheres, para tratar de forma coletiva problemas que atingiam à comunidade, a exemplo do êxodo rural e a baixa geração de renda.

A experiência também vem contribuindo para a formação de novas lideranças e para o protagonismo feminino, além de adotar práticas produtivas voltadas a preservação ambiental. Além de tudo isso, inovam ao adotar ações voltadas ao turismo rural, criando um ponto dentro do circuito que recebe o turista, mostra e vende o seu produto (flores e seus derivados). A experiência tem contribuído ainda para que outras famílias se insiram no circuito produzindo refeições típicas da região e artesanato.

 

Quem faz a experiência?

Essa é a experiência da Associação de Desenvolvimento de Macacos e Furnas ADESMAF , no município de Areia/PB.