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B Boas Práticas na Convivência com o Semiárido

Criação Animal
Melipolinicultura
O que é

Doce parceria! De um lado, o ser humano, que contribui para multiplicar e preservar espécies de abelhas sem ferrão, fortalecendo o equilíbrio com a natureza. De outro, as abelhas, que fazem a polinização e garantem a preservação da biodiversidade local.  É essa a dobradinha que define a melipolinicultura, como é chamado o trabalho com abelhas nativas da Caatinga.

Uma dessas abelhas é a mandaçaia. Ela é sempre bem-vinda em Capim Grosso, na Bahia. Sua presença é boa para a polinização de plantas como licuri e umbu, fontes de renda de produtores do Semiárido. Mas práticas como desmatamento, queimadas e uso de inseticidas e agrotóxicos estão tornando a mandaçaia cada vez mais rara.

É neste contexto que entram em cena a Cooperativa de Produção da Região do Piemonte da Diamantina (Coopes) e sua parceria com o movimento Slow Food Brasil, com o projeto Fortaleza do Mel de Abelha Mandaçaia da Caatinga. Criado em 2015, ele integrando uma iniciativa maior, chamada Fortalezas Slow Food.

No meliponário pedagógico, o trabalho envolve também quebradeiras de licuri ligadas à Cooperativa, jovens apicultores e meliponicultores, estudantes da Escola Família Agrícola de Jaboticaba (EFA), além de técnicos em agroecologia do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) e agricultores familiares.

A proposta é contribuir para a permanência das comunidades rurais no campo. Organização, busca de novas oportunidades de comercialização e valorização do patrimônio agroalimentar e do território são boas práticas que caminham lado a lado na experiência de melipolinicultura apresentada aqui.

Municípios Atendidos




Experimentador
Cooperativa de Produção da Região do Piemonte da Diamantina (Coopes)

A Cooperativa de Produção da Região do Piemonte da Diamantina – COOPES, fundada em 2005, é composta por produtoras e produtores da agricultura familiar que vivem na região.

Sua parceria com o Slow Food Brasil teve início em 2011 com a proposta de estimular a valorização e o beneficiamento do licuri.

Fale com o Experimentador

Cooperativa de Produção da Região do Piemonte da Diamantina
(74) 3651-0225
(74) 9 8142-4610 (contato de Valdivino Araújo Silva)
coopesvendas@hotmail.com

Informações sobre a experiência

Participam também da iniciativa mulheres quebradeiras de licuri ligadas à Cooperativa, jovens apicultores e meliponicultores, estudantes da Escola Família Agrícola de Jaboticaba (EFA) e técnicos em agroecologia do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), além de agricultores familiares.

O beneficiamento do licuri é o ponto forte da Cooperativa. Ela produz amêndoa de licuri salgada, doce e natural, licor de licuri, óleo, vinagre, sabonete e artesanato da palha do licurizeiro.

Outros alimentos também estão na lista: biscoitos, polpas de frutas, doces, geleias, hortaliças e mel.

A COOPES comercializa os seus produtos na própria sede, em Capim Grosso, além de Salvador e feiras e eventos nacionais e internacionais. Há venda também para o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE).

Foi a partir de um diálogo entre os envolvidos que surgiu a ideia de proteger a abelha mandaçaia. Em extinção, a espécie desempenha a importante função de polinização no território.

O projeto Fortaleza do Mel de Abelha Mandaçaia da Caatinga é desenvolvido nos territórios do Piemonte da Diamantina, Bacia do Jacuípe e Piemonte Norte do Itapicuru, na Bahia.

Como funciona a experiência

Fortalecer a melipolinicultura  ajuda também a proteger a biodiversidade local, uma vez que as abelhas nativas constroem seus ninhos em ocos de árvores como umburana de cambão, pau-ferro, aroeira, catingueira e umbuzeiro.

Sem ferrão, elas permitem um manejo mais seguro que pode envolver toda a família: mulher, homem, jovem e idoso podem realizar a atividade.

Entre as boas práticas para a atividade de melipolinicultura no Semiárido nordestino adotadas no âmbito da paceria da Cooperativa de Produção da Região do Piemonte da Diamantina e do Slow Food, estão:

  • Valorização do plantio de espécies nativas, o que favorece o equilíbrio do fornecimento de pólen e néctar como fonte principal de alimento para as abelhas. Esse grupo, por exemplo, passou a produzir mudas e plantar muitas árvores que dão florada;
  • Adoção de técnicas de coleta do mel que devem respeitar o saber tradicional e assegurar condições sanitárias adequadas para a manipulação do produto;
  • Uso de colmeias confeccionadas de materiais renováveis para o manejo das colônias que respeitem o saber tradicional local;
  • Comercialização que comunique a origem botânica, geográfica e entomológica do produto.

Para alcançar os objetivos do Fortaleza do Mel de Abelha Mandaçaia da Caatinga, em parceria como Slow Food, foram priorizados: o mapeamento da agrobiodiversidade local, a catalogação de espécies de abelhas nativas, a promoção da qualidade do mel e valorização da flora nativa para garantir o bem-estar animal, além do reconhecimento dos meliponicultores como guardiões da biodiversidade local.

Das 30 caixas que conseguiram, a Cooperativa tem 18 cheias. Cinco foram doadas para a EFA. Com as outras, produtores planejam fazer um sistema rotativo: quem quiser começar a criar abelhas leva duas caixas e, depois de multiplicar, devolve as duas colonizadas.

Josenaide de Souza Alves, conhecida como Josa, conta por que optou pela criação das abelhas sem ferrão: “É de fácil manejo, tem um mel menos doce e de uso medicinal. Também não é necessário investir em utensílios e roupas especiais, pode montar em lugares próximos a cidade porque elas não oferecem risco, não ferem. ”

Apesar do foco na proteção da mandaçaia, no meliponário pedagógico há também criação de abelhas jatai e moça branca.

Implementar

Em busca do mel da mandaçaia? Confira algumas recomendações:

  1. Saber quais são as abelhas nativas da sua região, uma vez que elas estão adaptadas ao clima local e acostumadas a buscar alimento nas plantas do ecossistema. Abelhas de outras regiões competem com as nativas e podem trazer doenças desconhecidas.
  2. Ter um bom pasto agrícola, isto é, área com plantas variadas que oferecem néctar e pólen para as abelhas.
  3. Entrar em contato com outros criadores para conseguir a primeira caixa, já com a colônia. O grupo de cooperados lembra que nunca se deve retirar colônias de abelhas de seu habitat natural.

Nada de desmatar! As caixas usadas pela COOPES são produzidas a partir de materiais renováveis e orgânicos, como madeiras certificadas ou reutilizadas.

Os envolvidos com a experiência compartilharam outras dicas:

Caso opte por fazer a captura, lembre-se que ela deve ser feita de forma adequada, com “caixas-isca”, que funcionam como armadilhas que capturam colônias que estão procurando uma nova moradia.

Uma boa ideia, segundo o grupo de cooperados, é aproveitar caixas prontas de meliponários multiplicadores. Hoje já são muitos criadores e não é mais necessário tirar abelhas da natureza.

“Você pode verificar se o enxame é forte ou se é fraco pela quantidade de abelhas que vai sair da colmeia (muitas abelhas, significa o enxame forte). Vai sair uma parte, e você captura na garrafa plástica. Aí forma um novo enxame. Não danifica a arvore e a matriz continua lá. A dificuldade é encontrar essas abelhas no município. Para conseguir, eu precisei comprar”, afirma Paulo das Mercês Santos, articulador do grupo, destacando a dificuldade de se encontrar abelhas sem ferrão no habitat natural.

É bom saber que quando a abelha passa a viver no meliponário, o meliponicultor deve estar atento às condições necessárias para o bom desenvolvimento da colônia. São necessários sombreamento, água e espécies vegetais fornecedoras de recursos para as abelhas coletarem.

Em regiões muito quentes, como é o caso do Semiárido, as abelhas precisam de água para refrigerar o ninho, evitando a perda dos ovos e larvas jovens. O ideal é ter bastante árvore ao redor.  Outra dica é deixar o chão sempre limpo, evitando folhagem nos locais abaixo das colônias.

Tome nota: a coleta e o beneficiamento do mel deve respeitar o saber tradicional local e garantir condições sanitárias adequadas para a manipulação dos produtos. Respeitar o ciclo de vida das abelhas é fundamental.

Adiantou de quê?

O projeto Fortaleza do Mel de Abelha Mandaçaia da Caatinga tem mobilizado diversas comunidades, despertando para a importância de preservar a espécie e sensibilizando para questões ambientais.

Os envolvidos com a experiência contam que ainda é cedo para medir resultados porque o projeto é recente, de 2015. Eles ainda não comercializam o mel das abelhas sem ferrão porque a ideia do projeto é multiplicar as espécies.

Desenrolar da História

A atividade de criação de abelhas nativas sem ferrão tem forte relação com os povos indígenas e comunidades tradicionais, o que torna a melipolinicultura uma importante atividade, principalmente, na região nordestina do Brasil.

Por muito tempo, o mel das abelhas dessas abelhas serviu de alimento em longas jornadas de vaqueiros e tropeiros, além de o principal medicamento para as quebradeiras do licuri e comunidades de fundo de pasto. Muito conhecimento e saberes locais traduzem a melipolinicultura praticada no Nordeste.

Sabe-se que o mel da abelha nativa oferece uma série de benefícios: é mais saudável que o açúcar, revigorante, cicatrizante e pode servir de remédio. Além disso, amplia a consciência ambiental e fortalece a biodiversidade local.

Neste cenário, levando-se em conta a necessidade de aliar a conservação da Caatinga, a valorização da cultura e identidades sertanejas e a melhoria da qualidade de vida no campo, foi chegada a hora de somar forças em prol da melipolinicultura.

Entra em cena o Projeto Fortaleza do Mel de Abelha Mandaçaia da Caatinga, fruto da parceria entre a Cooperativa de Produção da Região do Piemonte da Diamantina – COOPES e o Slow Food Brasil. A proposta da iniciativa é fortalecer a preservação das abelhas sem ferrão, nativas da Caatinga.

“Essa abelha tem sofrido ameaças que diminuem consideravelmente a sua população. A Mandaçaia tem uma importância fundamental na polinização de plantas nativas da região, particularmente do licuri”, explica Revecca Tappie, facilitadora Nordeste da Slow Food Brasil.

Segundo ela, motivaram a criação do Projeto o fato de a Caatinga abrigar cerca de 221 espécies de abelhas que se encontram em risco de extinção e de haver pouco incentivo de políticas públicas que apoiem a meliponicultura na região.

“Outra grande motivação foi a presença de atores locais, como a COOPES (Cooperativa de Produção da Região do Piemonte da Diamantina), parceira do projeto, que trabalha na comercialização e beneficiamento do licuri e que já tinha começado um trabalho com a meliponicultura”, explica.

Quem apoia

Esta experiência conta com o apoio do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola
(FIDA), que financiou o projeto Fortaleza do Mel de Abelha Mandaçaia da Caatinga,
executado pelo Slow Food Brasil em parceria com a Coopes.

Contato:

Slow Food Brasil
(71) 9 8614-8081 (Região Nordeste)

http://www.slowfoodbrasil.com

contato@slowfoodbrasil.com