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B Boas Práticas na Convivência com o Semiárido

Organização Comunitária
Louceiras da Paraíba

 

Mulheres do Quilombo do Talhado produzindo suas peças.  Á esquerda, a fase de moldar a peça, já a direita temos a fase de acabamento.

 

O que é?

 

Essa é história das ‘Louceiras do Talhado’. É a história de um grupo de mulheres que resistiu, enfrentou e criou alternativas que permitiram o fortalecimento da tradição louceira no estado da Paraíba. Elas integram uma comunidade quilombola no município de Santa Luzia, que surge através da migração dessas famílias da zona rural para a zona urbana, em busca de melhores condições de vida e sobrevivência.

Na cidade, construíram seu galpão produtivo e fixaram residência. Hoje, possuem maior segurança hídrica e contam também com o auxílio de máquinas e equipamentos que permitiram o aumento da produção e a melhoria da qualidade de vida dessas mulheres.

Onde aconteceu?

 

“Loiceiras”, é assim que são popularmente chamadas as mulheres quilombolas da comunidade do Talhado, localizada em Santa Luzia, na mesorregião da Borborema e microrregião do Seridó ocidental do estado da Paraíba, no Nordeste do Brasil.

 

Como aconteceu?


 

À direita, foto de Rita Preta, primeira líder das louceiras do Quilombo do Talhado.  À esquerda, foto do talhado rural.

 

A história de vida dessas mulheres é uma trajetória de muita força, luta e resistência. A comunidade onde hoje vivem, é fruto da chamada Serra do Talhado Rural, e surgiu por volta de 1990, quando Rita Maria da Conceição Ferreira – mais conhecida como Rita Preta –, primeira líder das louceiras do quilombo, decidiu se mudar da zona rural para a periferia da cidade de Santa Luzia, para formar a Comunidade Urbana do Talhado.

E assim, junto com ela, migraram em torno de trinta mulheres e suas famílias, e foi ali que organizaram a fabricação e venda das suas louças, que antes eram transportadas por 26 km no lombo de animais puxados pelas louceiras, que se deslocavam a pé para vender suas peças na feira do município.

Como implementar?

Aqui não mostraremos o passo a passo de como implementar essa Boa Prática e sim como esse grupo de mulheres se organizou para “fazer acontecer”.

Com a mudança para a cidade, as louceiras construíram suas casas ao redor do galpão onde produzem as peças e formaram uma comunidade que mantém seus laços familiares e sua ligação com a zona rural. Em 2011, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) reconheceu esse grupo como uma Comunidade Remanescente de Quilombo Urbano da Serra do Talhado, o que originou a criação da Associação Comunitária Louceiras Negras do Quilombo do Talhado.

Na época, a líder da Associação era Maria do Céu, uma das netas de Rita Preta, e que buscava seguir o legado de luta e coragem de sua avó. Infelizmente, poucos anos depois, Maria do Céu foi vítima de feminicídio, sendo tragicamente morta por seu ex-companheiro, em outubro de 2013.

Porém, mesmo com as adversidades, tendo que superar essa experiência dolorosa e a perda irreparável de sua liderança, as mulheres resistiram e se reorganizaram. Com isso, quem assume a liderança do grupo é Gileide, irmã de Maria do Céu, que diz tê-la como inspiração para suas tomadas de decisão.

Elas passaram a produzir novas peças e criar novas possibilidades para sempre manter viva a tradição louceira.

Veja na imagem o passo a passo para a produção de uma peça de barro, ou melhor, de uma “loiça” da Paraíba.

A partir do sonho e do trabalho surgem as parcerias.

A partir dessa atividade, e por meio da organização da comunidade enquanto Associação, alcançam o apoio do Projeto de Desenvolvimento Sustentável do Cariri, Seridó e Curimataú (Procase), fruto de um acordo bilateral firmado entre o FIDA e o estado da Paraíba, com abrangência de 56 municípios do semiárido paraibano.

Com isso, as louceiras receberam um financiamento de R$ 152 mil, que beneficiou dez famílias de forma direta, e mais trinta pessoas, indiretamente. Esse recurso possibilitou a reforma do galpão e do forno produtivo, perfuração de um poço completo com bombeamento, aquisição de máquinas e equipamento para escritório, produção e capacitações em comercialização e marketing, além de assistência técnica para potencializar a produção e a gestão do empreendimento dessas mulheres.

Além disso, a comunidade pode ampliar ainda mais a diversidade e a quantidade de peças produzidas, aumentando a renda e a qualidade de vida das mulheres.

Os apoios firmados nesse percurso garantiram melhorias e mais tranquilidade durante esse processo.

O que mudou?

Essa experiência traz várias mudanças nas vidas das mulheres louceiras, na forma de produzir, na comercialização e principalmente na organização do grupo, confira algumas delas:

  • Antes, o acesso à água usada na produção das louças, se dava através da casa de uma moradora vizinha ao galpão, e o gasto desse consumo era dividido entre as louceiras. Hoje, esse abastecimento é garantido pelo poço perfurado no local. “Depois do poço, é só ouro”, como afirma uma dessas mulheres, Fátima, de 50 anos.
  • Após as ações do Procase também houve o aumento na renda familiar, porque a produção cresceu nos últimos três anos. Antes o grupo produzia em torno de 700 peças por mês, hoje a produção é, em média, de mil peças ao mês. Essa melhoria econômica pode ser notada, entre outras coisas, pelo aumento do número de eletrodomésticos e pela melhoria da mobilidade, já que, hoje, todas elas têm meio de transporte próprio.
  • A reforma do galpão também proporcionou a essas mulheres um espaço de trabalho mais adequado e seguro, inclusive com espaço de escritório para a execução de atividades administrativas.
  • A aquisição de um triturador de entulhos sólidos trouxe mais praticidade e diminuiu o tempo de trabalho e o desgaste físico das louceiras, pois esse equipamento faz o serviço de triturar o barro, trazendo mais segurança e saúde no trabalho e permitindo uma melhoria na qualidade de vida dessas mulheres.
  • A participação em intercâmbios e capacitações, através de ações promovidas pelo Projeto, também contribuiu para o aumento da autoestima das mulheres, assim como para a troca de experiência e saberes.

Através de toda a resistência, e acreditando que o sonho era possível, as mulheres “loiceiras” do Quilombo do Talhado conquistaram melhoria de vida, ganho de renda e garantiram o fortalecimento da tradição louceira, tudo isso por meio do trabalho em grupo e do empoderamento dessas mulheres.

 

Quem faz a experiência? 

Essa experiência foi realizada pela Associação Comunitária das Louceiras Negras da Serra do Talhado, localizada no Município de Santa Luzia/PB.