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B Boas Práticas na Convivência com o Semiárido

Organização Comunitária
Jovens comunicadores

À esquerda, jovens comunicadores que participam do Projeto; à direita, o registro de uma das oficinas oferecidas. 

 

 O que é?

O projeto Jovens Comunicadores é uma iniciativa das assessorias de Comunicação e Gênero do Pró-Semiárido, fruto da parceria entre o Governo da Bahia e o Fida, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR).

A Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (CAR) executa o projeto, que tem como objetivo atrair a juventude rural e oportunizar a geração de autonomia socioeconômica destes/as jovens, por meio do aprendizado de ferramentas de comunicação e expressão.

Aqui vamos conhecer um pouco mais da execução desse projeto pioneiro, como também o impacto de seus resultados na contenção do êxodo rural na região.

 

Onde aconteceu?

 

A experiência apresentada aqui está sendo desenvolvida em toda a área de abrangência do Projeto Pró-Semiárido. Mas a título de apresentação, aqui temos de três turmas do início do projeto, localizadas no Território de Identidade – classificação reconhecida como divisão territorial oficial de planejamento das políticas públicas do estado – Sertão do São Francisco, na Bahia.

 

Como aconteceu?

Durante as primeiras reuniões e assembleias para a elaboração dos planos de Desenvolvimento e Investimento nas comunidades dos 32 municípios da área de abrangência do Pró-Semiárido, constatou-se a baixa representação do público entre 15 e 29 anos de idade.

Foi despertada, assim, a necessidade de promover uma ação específica e atrativa para o envolvimento destes/as jovens nas atividades do projeto.

 A Assessoria de Comunicação buscou, então, dialogar com o Instituto da Pequena Agropecuária Apropriada (Irpaa) e o Serviço de Assessoria a Organizações Populares (Sasop). Por já realizarem formações em Comunicação nas suas organizações, as duas entidades regionais – já contratadas pelo Pró-Semiárido para prestar assessoramento técnico – foram parceiras desde a fase de desenvolvimento do Jovens Comunicadores.

Como implementar?

Inicialmente, foi desenhado o projeto, com abertura, em maio de 2017, de três turmas para experiência. O projeto se compõe de dez encontros, chamados oficinas, com os seguintes temas: Rádioweb, Vídeo por celular, Técnicas de entrevista e Produção de texto, Direito à Comunicação, Marketing Digital, Fotografias: Básica e Avançada, Cordel, Cidadania e Gênero.

Para a condução das oficinas, professores/as – denominados “oficineiro/as” – foram contratados/as individualmente. Além deles, cada escritório local possui uma jornalista, que desempenha a função de facilitadora em todas as oficinas e intercâmbios, conduzindo as turmas e permeando os encontros com temas relacionados ao contexto local.

Importante na condução do processo, as parcerias construídas preveem a seleção dos/as jovens e o compromisso de colaboração. São as parcerias que disponibilizam o local e os equipamentos necessários para realizar os encontros, além de mobilizarem e acompanharem o grupo até a conclusão de cada atividade do projeto.

As despesas com deslocamento, hospedagem e alimentação dos jovens são cobertas pelo projeto. A seleção dos/as jovens é realizada pelas entidades de Assistência Técnica Contínua (ATC), parceiras prioritárias na abertura das turmas, respeitando um perfil preestabelecido para esses/as jovens, e com equidade de vagas por gêneros. Essas organizações atuam junto aos três escritórios locais do Pró-Semiárido, localizados em Juazeiro, Senhor do Bonfim e Jacobina.

Porém, as parcerias para o Jovens Comunicadores podem ser estabelecidas com outras instituições, inclusive prefeituras. A orientação dada é a de que o indivíduo beneficiário do Jovens Comunicadores esteja envolvido em ações coletivas, possua um perfil de liderança e se enquadre, preferencialmente, na faixa etária definida.

Com uma média de vinte jovens por turma, as oficinas duram dois dias, cada um com aulas de seis horas, e uma noite cultural, com duração de duas horas. Juntos/as, oficineiro/a e facilitadora desenvolvem um programa sob medida antes de cada aula e enviam à coordenação, para validação da proposta. A programação de cada oficina é composta por uma mística de abertura, rodas de diálogo e práticas, que incluem produções criativas de texto e análises de conteúdo.

Durante o dia, o diálogo e a troca de saberes se estabelecem, com atividades que envolvem conteúdos contextualizados com a realidade dessas comunidades. Tópicos abordados: Convivência com o Semiárido, Agroecologia, Políticas Públicas, Associativismo, Economia Solidária, Agricultura Familiar, Etnicidade, entre outros. Cada oficina é finalizada com uma avaliação individual sobre os trabalhos e cada jovem responde a um questionário de cadastro e registro do perfil sociocultural e econômico dos participantes.

A Assessoria de Comunicação processa os dados, com a colaboração da equipe de Monitoria e Avaliação do Pró-Semiárido. Após as três primeiras oficinas, cada turma realiza um intercâmbio, para conhecer uma entidade que trabalhe com empoderamento juvenil. Em seguida, realiza-se um Festival Cultural em uma das comunidades-referência da turma, para apresentar aos familiares dos/as participantes os produtos desenvolvidos pelos jovens nas oficinas. Ao longo das etapas, as turmas vão se conhecendo. Afinal, encontram-se em um grande evento de formatura, com entrega dos certificados.

 

Jovem comunicadora formada pelo Projeto, e que hoje já trabalha com fotografia na sua comunidade. 

 

Vamos conhecer melhor esse passo a passo:

 

  • Teste inicial: O início das ações se deu em 2017, quando o projeto foi iniciado no Território de Identidade Sertão do São Francisco, com a participação de 64 jovens, divididos em três turmas oriundas de municípios atendidos pelo escritório local do Pró-Semiárido, em Juazeiro: duas em Remanso e uma em Juazeiro. Participaram moradores/as de comunidades dos municípios de Casa Nova, Sento Sé, Sobradinho, Monte Santo, Remanso, Pilão Arcado, Juazeiro e Campo Alegre de Lourdes. Desde então, o projeto conta com poucas desistências.
  • Parcerias e espaços ampliados: A partir de 2018, o Projeto Jovens Comunicadores abriu novas turmas em municípios atendidos pelos escritórios locais de Senhor do Bonfim e Jacobina, chegando ao número de doze turmas, com total de 381 jovens, até esta data. Exemplos de novas parcerias são o Sindicato de Trabalhadores Rurais de Remanso, a Rádio Zabelê FM; a Paróquia de São João, a Rádio Luz do Sertão, em Uauá, e a Prefeitura de Pindobaçu, por meio do Centro de Referência em Assistência Social (Cras). Todos cedem os espaços para a realização das oficinas e contribuem para efetivar e divulgar as atividades entre os/as beneficiários/as.
  • De aprendizes a protagonistas: As oficinas de Cordel, ministradas pelo poeta e cordelista, Maviael Melo, resultaram na produção de 1.338 versos. Os temas foram: Direitos e Deveres, Comunicação, Educação, Gênero, Violência Doméstica, Agricultura Familiar, Drogas, Política e Cidadania.

Na oficina de Cidadania, mediada pela cientista política Claudia Machado, os/as jovens são estimulados/as a apresentar projetos sociais que envolvam suas comunidades. As turmas desenvolveram vinte propostas sobre temas que vão desde uma campanha de conscientização sobre descarte de resíduos sólidos nas comunidades até a criação de uma unidade de beneficiamento de couro. Essas propostas serão detalhadas numa segunda oficina de Cidadania, para que sejam analisados a viabilidade e o apoio, pela Coordenação do Pró-Semiárido.

 

O que mudou?

Analisando os resultados obtidos pelo Projeto Jovens Comunicadores, pode se verificar e observar melhoras em dois níveis: houve aumento do público jovem como beneficiário do Pró-Semiárido, no Componente Produtivo, diminuição do êxodo rural da juventude da região para grandes centros urbanos, e já são percebidos os primeiros sinais de geração de renda e autonomia desses/as jovens, a partir do aprendizado proporcionado pelo Jovens Comunicadores. Vejamos mais algumas dessas mudanças:

  • Desde o início do projeto, os/as jovens foram convidados/as a cobrir eventos regionais, a exemplo da 19ª Festa da Mandioca, no município de Casa Nova, com textos e fotos divulgadas no site do Sasop. Percebemos, com isso, o crescimento do interesse dos/as jovens pela divulgação de notícias e fotos das suas localidades, o que alavancou a criação de páginas nas redes sociais por eles/elas – resultado das oficinas.
  • Com o desenrolar das ações e do reconhecimento público, iniciou-se uma intensa procura por vagas no projeto Jovens Comunicadores, gerando uma lista de espera. Demonstrou-se, assim, como o trabalho conseguiu incluir e encantar a juventude do semiárido. Explicitou-se que, tendo oportunidades envolventes e inovadoras, os/as jovens desejam fazer parte delas e – acima disto – tendem a permanecerem em seus territórios.
  • O projeto gera oportunidades para a juventude ficar em suas regiões e gerar renda. São inúmeros os depoimentos, dos mais de 380 beneficiários/as do Jovens Comunicadores, que traduzem as mudanças que já são sentidas por eles/elas em termos de visão de mundo, de olhar crítico e de descoberta de talentos que se desdobra em atividade profissional e local.
  • O uso e a difusão das mídias alternativas – de caráter comunitário – têm criado espaços importantes de participação da juventude, como momentos de afirmação da resistência cultural e política desse público.
  • Com a utilização de produtos adquiridos da agricultura familiar e a proibição de alimentos processados e industrializados nas refeições e lanches das oficinas, a ação aborda implicitamente a importância da nutrição e da segurança alimentar.
  • Quanto às oficinas de Fotografia Básica, foram registradas quatrocentas fotos de alta qualidade, de autoria dos/as jovens. Tiradas a partir do entendimento do papel estratégico da fotografia, elas demonstram a compreensão desta como expressão estética, percepção subjetiva, produção autoral, leitura do mundo visível, tramas de ver e registrar visualmente a história; voltadas para o desenvolvimento do olhar.
  • Com as oficinas, alguns jovens já conseguem trabalhar e gerar renda através dos conhecimentos adquiridos. “Eu sempre tive aptidão para fotografia, sempre fotografei tudo. Daí veio o projeto, a Oficina de Fotografia, que foi de fundamental importância, pois aprendi sobre muita coisa: a história da fotografia, enquadramento, iluminação… enfim, já estou vendendo fotografias”, afirma Clécia Ribeiro, da comunidade caldeirãozinho, município de Uauá, que hoje realiza trabalhos com fotografia de casamentos, aniversários e eventos na comunidade.

O Projeto Jovens Comunicadores é inédito, tanto no Governo do Estado da Bahia quanto nos projetos Fida. Não há registros de políticas públicas voltadas para a juventude rural, com foco na formação em comunicação e cidadania. E com ele podemos observar como a realização dessa atividade contribui para o empoderamento da juventude por meio da comunicação.

Quem faz a experiência?

Essa é a experiência do Projeto Jovens Comunicadores, realizado no Semiárido da Bahia.