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B Boas Práticas na Convivência com o Semiárido

Organização Comunitária
Ecogastronomia

 

Reunião entre as mulheres da Associação, que surgiu a partir da necessidade de organização entre elas.

 

O que é?

A bela e longa história da Associação de Mulheres Agricultoras de Itainópolis (Amai) começou na década de 1980, com o processo de organização do período da constituição das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs).

Em 1990, essas mulheres rurais decidiram fundar uma Associação, e enfrentaram muitas dificuldades, desde conseguir dinheiro para formalização do grupo, até convencer os homens de que a organização não era um movimento contra eles.

Hoje, a partir de parcerias e novos conhecimentos adquiridos, as mulheres vendem salgados feitos com carne de bode, atividade que se soma a caprinovinocultura muito presente na região.

 

Onde aconteceu?

A cidade de Itainópolis fica localizada a aproximadamente 390 km de Teresina, capital do Piauí, e é lá que surge a experiência da Amai.

 

Como aconteceu?

Através dessa organização em torno da Associação, as mulheres começaram a ocupar espaços de poder, duas das associadas foram eleitas, uma delas sendo a primeira mulher presidente do Sindicato de Trabalhadores Rurais, dona Francisca; e a outra, dona Teresa, foi a primeira mulher agricultora a ser vereadora do município.

Com a luta dessas mulheres, o movimento sindical, na ocasião, estabeleceu cotas de, pelo menos, 30% de mulheres nas diretorias dos sindicatos, chegando hoje à paridade de gênero.

Em 2010, elas alcançam uma importante conquista, um Ponto de Cultura para o município! Nele eram oferecidos cursos de artesanato, de crochê, de barro, locução de rádio, comunicação, e a participação da juventude era fundamental nessas ações.

 

Como implementar?

 

Mulheres da Amai em uma de suas reuniões.

 

As ações da Amai em benefício das mulheres conseguiram alterar aspectos importantes para a vida de todas elas, e alcançar conquistas significativas, tudo isso através da força e união dessas agricultoras.

Dentro de suas atividades, o grupo ajudou diversas mulheres a retirarem documentos civis e acessar direitos, promoveu ações referentes à saúde coletiva, à saúde da mulher, debates e formações sobre alimentação alternativa, remédios caseiros e nutrição, além de promover diversos cursos.

No ano de 2015, o Projeto Viva o Semiárido (PVSA), fruto da parceria entre o Governo do Piauí com o Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (Fida), chega até a associação, e com ele, mulheres de diferentes comunidades do município foram contempladas com assessoria técnica e outras ações. Ao todo, o investimento feito foi de R$ 263.400,00, e visava à estruturação da produção em ovinocaprinocultura em Itainópolis.

 

As parcerias trouxeram avanços importantes.

Pelas ações do PVSA, as primeiras formações recebidas pelas mulheres foram de silagem, e de produção de bolos e salgados. E durante esse curso, elas perceberam que aquele conhecimento poderia ser usado para aumentar a renda familiar e também para fortalecer o grupo. Foi pensando nisso, que durante as aulas, que continham muitas receitas à base de frango, elas sugeriram uma adaptação e passaram, então, a produzir coxinha, pastel, croquete, rissole, “bolinha nordestina” – tudo com a carne de bode, que era de mais fácil acesso na região onde trabalham com a ovinocaprinocultura.

Em seguida, uma dessas mulheres teve a oportunidade de participar do intercâmbio e do curso sobre ecogastronomia, organizado pelo Programa Semear Internacional, com o objetivo de valorizar o resgate de comidas tradicionais. Com essa oportunidade, puderam receber dicas e aprender novos preparos para aplicar na sua produção.

As mulheres da Amai também participaram da 1ª Exposição de Ovinocaprinocultura de Itainópolis, onde puderam conhecer as experiências exitosas dessa cadeia produtiva; além do Curso de Gestão Participativa e Financeira de projetos, que foi importante para saberem tocar a associação de forma efetiva. Outros eventos como a Feira da Agricultura Familiar do Território, em Picos; e o Encontro de Jovens, em Jacobina, uma atividade realizada entre o Projeto Viva o Semiárido e a Prefeitura Municipal de Jacobina, também vieram contribuir e fortalecer o empreendimento dessas mulheres.

Com todo esse conhecimento, às mulheres que até então vendiam sua produção de forma individual, decidiram ampliar seus canais de comercialização, e vislumbram a possibilidade da venda para o Programa de Aquisição de Alimentos, do Governo Federal, e para a merenda nas escolas municipais da sede do município, baseadas em experiências vistas durante os eventos e intercâmbios que participaram.

O que mudou?

As ações da Associação de Mulheres Agricultoras de Itainópolis (Amai) trouxeram diversas mudanças e benefícios para a vida das mulheres da região, veja algumas delas:

 

  • Com as ações da Amai e o apoio do PVSA no local, elas alcançaram um aumento de renda, chegando a vender em 2018, o número de 20 mil salgados, o que representou uma renda de R$ 3.400,00 em sete meses.
  • Além do ganho econômico, também houve ganhos ambientais, pois com as formações e assistência técnica oferecidas, as mulheres passaram a não desmatar e a utilizar menos madeira para a queima, além disso, a fertilidade dos solos aumentou após o uso de adubos orgânicos naturais.
  • O acesso à água também melhorou entre elas, porque o plantio de palma possibilitou a instalação de um sistema de irrigação, além de alcançarem mais segurança alimentar e nutricional, com o autoconsumo de suas produções, o que gerou também economia, pois elas deixarem de gastar com a compra desses alimentos.
  • A qualidade da água do rio também melhorou, já que as novas práticas ambientais trouxeram uma diminuição da poluição no local. As pragas e doenças presentes na plantação também foram reduzidas com o controle no uso de agrotóxicos.
  • A fertilidade dos solos aumentou após o uso de adubos orgânicos naturais, o uso da palha de carnaúba nos plantios e de insumos naturais, como esterco animal, o que também contribuiu para a preservação dos solos.
  • A aquisição de equipamentos, como a máquina forrageira, ajudou a diminuir o esforço do trabalho, como afirma uma dessas mulheres: “A gente não precisa mais penar cortando o capim”.
  • Quanto às questões de gênero, algumas delas acreditam que seus companheiros passaram a fazer mais atividades em casa, por conta do trabalho que elas assumiram fora de casa; outras ainda precisam deixar os afazeres domésticos prontos, logo cedo, para que maridos e filhos/as, ao acordarem, encontrem a casa arrumada e a mesa do café da manhã posta.
  • Embora ainda hajam avanços a serem alcançados em termos de divisão justa do trabalho doméstico, podemos perceber que em termos de violência doméstica e familiar, houve uma diminuição entre elas, que creditam isso ao fato de estarem mais informadas e conscientes de seus direitos, além da organização entre elas, que fortalece não só o grupo, mas cada mulher individualmente.

Durante toda sua trajetória, a Amai vem trilhando um caminho de conquistas e autonomia, se tornando exemplo de boas práticas por toda demonstração de perseverança, capacidade de organização, participação, união, força de vontade e envolvimento político na luta pelo direito das mulheres.

 

Quem faz a experiência? 

Essa é a experiência da Associação de Mulheres Agricultoras de Itainópolis (Amai), do Município de Itainópolis/PI.