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B Boas Práticas na Convivência com o Semiárido

Produção Agroecológica
Diversidade agroecológica

 

À esquerda, estufa para produção de mudas; à direita, demonstração da melhoria na irrigação do solo após o uso da cobertura vegetal.

 

O que é?

Na região do Curimataú paraibano, no assentamento Riacho do Sangue, doze famílias de agricultores/as familiares desenvolvem uma experiência de diversidade agroecológica.

Lá, além do fortalecimento do rebanho caprino leiteiro há práticas de viveiricultura, produção de forragem e implantação de um Sistema Agroflorestal (SAF). Vamos conhecer aqui um pouco de todas essas ações, e alguns dos resultados já alcançados no local.

 

Onde é?

Na região do Curimataú paraibano, município de Barra de Santa Rosa, mais precisamente no assentamento Riacho do Sangue.

 

Como aconteceu?

O Assentamento Riacho do Sangue surge por volta do ano de 2008, quando as famílias que estavam acampadas no local ganham a posse da terra. Nesse período, houve ações e acompanhamento de assistência técnica por meio do Incra, em que a comunidade foi beneficiada com um campo de produção de palma forrageira, que atende toda a população assentada.

Anos depois, pela organização e interesse da comunidade, eles/as vão em busca de novas parcerias, e conseguem ampliar seus recursos, e aumentar a produção, gerando renda de forma agroecológica e sustentável.

 

Como implementar?

Buscar uma alternativa produtiva inserida no contexto da convivência com o Semiárido, incluindo os pilares da sustentabilidade, esse é o objetivo do projeto produtivo que vem sendo desenvolvido na comunidade Riacho do Sangue – A iniciativa conta com o apoio do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (Fida) e Governo do Estado da Paraíba, por meio do Procase.

As ações do Procase perpassam 56 municípios localizados no Semiárido do estado, distribuídos em cinco territórios distintos, onde são encontrados baixos índices de desenvolvimento econômico e social, além de ser uma localidade com grandes períodos de estiagem.

Em 2014, a comunidade submeteu uma proposta ao edital lançado pelo Procase, orientados por articulações políticas no município que auxiliaram a Associação Comunitária dos Agricultores Familiares do Imóvel Riacho do Sangue a pensar o esboço do projeto produtivo.

Por intermédio das ações do Procase houve a melhoria da capacidade de produção de forragem com implantação de um campo irrigado de palma e compra de maquinário, sendo uma ensiladeira, um misturador de ração, formas de silos cinchos. Além da aquisição de equipamentos para instalação eletromecânica para captação de água do poço.

Também houve a implantação de um viveiro de mudas com o objetivo de potencializar o reflorestamento e conservação de mananciais, acarretando a redução da degradação ambiental do bioma caatinga.

A implantação de um Sistema Agroflorestal (SAF) visa também a defesa ambiental, com a vantagem adicional de possibilitar o suporte forrageiro na comunidade, abrindo a possibilidade do uso de outras culturas além da palma para a alimentação do rebanho.

Com o SAF, um modelo de produção agropecuária onde são combinadas espécies frutíferas ou madeireiras com cultivos agrícolas e/ou criação de animais, de forma simultânea ou em sequência temporal, a comunidade ganhou em termos econômicos e ecológicos.

 A implantação do viveiro de mudas, além de ter o objetivo de servir às atividades produtivas da comunidade, também trouxe uma nova possibilidade de geração de renda, com a comercialização dessas mudas.

Outra meta, que integra o plano de trabalho do projeto produtivo apoiado pelo Procase junto à comunidade de Riacho do Sangue, é a construção de um galpão para armazenamento de ração e dos equipamentos. O galpão abriga uma cisterna de placa, aproveitando a cobertura da construção para auxiliar no suporte hídrico para a atividade da caprinocultura.

Como última meta, foram adquiridos os animais: matrizes e reprodutores caprinos, com o objetivo de melhorar geneticamente o rebanho local.

Desenvolvimento da caprinovinocultura na comunidade Riacho do Sangue.

 

 

Novas parcerias que ajudam a superar desafios.

Durante esse processo de atuação do Procase junto à comunidade, um dos desafios encontrados foi quanto aos cuidados na limpeza das instalações onde se encontram os animais e ao uso de vermífugos para evitar doenças no rebanho. Em razão disso, quando foram iniciados os trabalhos de Assistência Técnica (Ater) na comunidade, iniciaram-se ações de conscientização nesse sentido.

O acompanhamento de uma equipe de Ater chegou à comunidade em meados de 2017. O serviço foi realizado pela Cooperativa de Prestação de Serviços Técnicos da Reforma Agrária da Paraíba LTDA (Cooptera), que visa acompanhar intensamente o desenvolvimento da atividade produtiva, com visitas individuais e atividades coletivas com os produtores.

Para iniciar os trabalhos de Ater, a equipe responsável por acompanhar cada comunidade construiu um Plano de Desenvolvimento do Empreendimento (PDE) em conjunto com os beneficiários e beneficiárias.

Um dos avanços já alcançados por essas ações de ATER foi a melhoria do manejo sanitário e da nutrição dos animais (caprinos), com o aumento da segurança alimentar dos rebanhos, o que trouxe ainda o aumento da produção de leite. Também foi realizado pelas equipes de ATER um processo de conscientização quanto ao desmatamento, à presença de lixo mesmo com coleta pública, à caça predatória e à presença de queimadas. Para minimizar essas ações humanas foi elaborado um calendário de sensibilização e orientação dos cuidados com os recursos naturais.

A comunidade Riacho do Sangue recebeu também uma série de capacitações com vistas a potencializar o desenvolvimento do projeto produtivo, entre elas: Produção de Mudas; Gênero e Organização Social; Tecnologia de Reuso de Água; Produção e Armazenamento de Forragens; Estudo de Viabilidade Econômica do Empreendimento; Produção de Silagem com Vegetação Nativa e Aspectos para sua Conservação, entre outras.

 

O que mudou?

  • Melhora da capacidade forrageira da comunidade. Quando do início das ações do Procase, foi implantado outro campo de palma forrageira resistente à cochonilha do carmim. Como um dos resultados do Projeto, os agricultores e agricultoras do local têm, hoje, uma maior segurança alimentar para o rebanho, com a garantia da forragem para os animais.
  • Hoje, os agricultores/as já começam inclusive multiplicar esse cultivo de palma – que está em um campo de produção coletiva – para que cada produtor possa ter um pequeno cultivo em suas propriedades particulares. Também já realizam doações de raquetes a outras comunidades da região.
  • A melhoria da segurança alimentar do rebanho também só foi possível através do aumento da segurança hídrica da comunidade, com a implantação de sistema para captação de água de um poço já existente no local. Também houve a construção da cisterna de placa, com capacidade para 20 mil litros de água e a implantação do kit de irrigação.
  • Com o kit de irrigação, o trabalho dos agricultores e agricultoras do local ficou mais fácil, além de garantir maior aproveitamento da água disponível, por usar o sistema de gotejamento.
  • O uso racional da água, aliado a outras práticas agroecológicas, permitem que a comunidade de Riacho do Sangue possa maximizar as potencialidades do local com poucos recursos e em contexto semiárido, desenvolvendo práticas sustentáveis.
  • Aumentou a diversidade de culturas. Hoje, com o SAF, a comunidade possui cultivos de sorgo, capim, palma, macaxeira, maniçoba, jerimum, melancia, pinha, romã, graviola, goiaba, laranja, manga, caju, moringa (planta forrageira importante pela quantidade de proteína e cálcio), gliricídia, ipê-roxo (também conhecido como pau- -d’arco), aroeira, catingueira e umburana.
  • Essa diversidade de culturas hoje presentes na comunidade, além de trazer melhorias ambientais, também se apresenta como uma nova possibilidade de melhoria de renda para essas famílias. Isso tanto em razão da possibilidade de venda dos produtos excedentes em mercados e feiras da região, como também pela diminuição da compra de alimentos, uma vez que grande parte destes passaram a ser produzidos pelos agricultores e agricultoras do assentamento.
  • A produção hoje garante a segurança alimentar e nutricional tanto para o rebanho caprino, como também para as próprias famílias que residem no local e que podem retirar dele sua subsistência e seu sustento.
  • Antes das ações do Procase, os produtores do local – ao invés de lucros – acumulavam dívidas, em razão das despesas que possuíam para a manutenção de seus rebanhos. A média de produção diária era de dez litros de leite caprino, com cerca de vinte matrizes num plantel, o que mal garantia o consumo familiar. Hoje, após a aquisição de 48 matrizes e três reprodutores caprinos PO da raça Parda Alpina, houve a melhoria genética do rebanho, e a produção subiu para 65 litros diários, abrindo a possibilidade de comercialização do leite, bem como o seu beneficiamento.
  • Porém, a comunidade ainda enfrenta dificuldades na comercialização. Isso se deve a uma série de fatores, que envolvem a organização da associação. Nesse sentido, há dificuldade de, enquanto grupo, organizar eventos próprios ou mesmo se integrar em feiras promovidas na região. Além disso, muitas pessoas ainda possuem o preconceito quanto ao consumo de leite de cabra, por causa do cheiro e do gosto, outro entrave enfrentado pela comunidade.
  • Os produtores/as comercializam hoje, em média, 40 litros diários de leite bruto, uma vez que o restante é destinado ao consumo familiar. Tomando como base que a venda do litro do leite é praticada a R$ 1,99, é possível estimar o potencial de receita bruta desses produtores em R$ 79,60 diários. Isso representa o valor de R$ 2.388,00 ao mês.
  • Também há perspectiva da comunidade realizar o beneficiamento do leite de cabra por meio da produção de queijos, iogurtes e doces, aumentando as possibilidades de geração de renda das famílias.
  • Do viveiro de mudas, construído como objetivo de produzir mudas para as atividades produtivas da comunidade, surgiu uma outra oportunidade: a de geração de renda pela da atividade da viveiricultura. A empresa Florest, responsável pela implantação dos SAFs na área de atuação do Procase, contratou os produtores do Riacho do Sangue. A empresa adquiriu quatro mil mudas da comunidade, ao valor de R$ 1,25. Esse recurso adicional de R$ 5.000,00 para os/as produtores/as pode auxiliar na caprinocultura ou motivar uma nova atividade produtiva, no caso, a expansão da viveiricultura.

Na comunidade Riacho do Sangue, com as ações implementadas no local, a assistência técnica e a própria dedicação dos assentados/as do local, criou-se um ambiente de sustentabilidade e grande diversidade agroecológica.

Presente em um contexto de Semiárido, numa região onde há grande escassez de água, dificuldade de acesso a políticas públicas e outros recursos, a comunidade nos prova que é possível ter uma boa qualidade de vida, produzindo de forma diversificada, sustentável e agroecológica, além de gerar renda para as famílias.

 

Quem faz a experiência?

Essa é a experiência do Assentamento Riacho do Sangue, no município de Barra de Santa Rosa/PB.