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B Boas Práticas na Convivência com o Semiárido

Criação Animal
Criação de caprinos e aves

Produção na comunidade Porenquanto, em Barra D’Alcântara, Piauí.

 

O que é?

Vamos apresentar a trajetória da Associação Porenquanto, que possui um histórico de lutas e conquistas pelo bem de toda a comunidade. No local, as famílias desenvolvem as atividades de ovinocaprinocultura e avicultura, e já estão colhendo os frutos do seu trabalho.

Com o aprendizado de novas técnicas, conquistaram avanços quanto a qualidade e o manejo do rebanho, e esse conjunto de mudanças alavancou tanto a produção quanto a produtividade, trazendo melhoria na renda e do autoconsumo das famílias.

 

Onde aconteceu?

 

Esta experiência acontece na associação comunitária Porenquanto, que está localizada a 6 km da sede do município de Barra D’Alcântara e a 271 km da capital, Teresina, estado do Piauí.

 

Como aconteceu?

Fundada em 1997, a Associação nasceu da mobilização e organização dos moradores e moradoras, em busca de melhorias e desenvolvimento da comunidade.

Formada por trinta famílias de agricultores/as familiares, o grupo desenvolve atividades produtivas nas áreas de ovinocaprinocultura e avicultura, além da agricultura de sequeiro, com as culturas de milho, feijão, mandioca, arroz e fava.

Através da organização comunitária, conseguiram a aquisição de máquinas e implementos agrícolas, a construção de um galpão e da sede da associação. Além disso, se beneficiarem, do acesso a Ponto de Cultura, do Programa Minha Casa Minha Vida Rural, e de cursos de associativismo, ovinocaprinocultura e produção de cajuína.

 

Como implementar?

      

À esquerda, criação de animais; à direita, produção agrícola desenvolvida na região.

 

Essa experiência nos traz componentes importantes para o desenvolvimento comunitário: o investimento produtivo, a assistência técnica e a organização/conhecimento, que levam ao protagonismo dos/as beneficiários/as. Sobre isso, vamos mostrar aqui como a comunidade conseguiu potencializar suas ações e tornar o sonho real.

Em 2016, a associação conhece o Projeto Viva o Semiárido (PVSA). Os/as sócios/as iniciam com o PVSA o processo de discussão e elaboração do Projeto de Investimento Produtivo (PIP) de Ovinocaprinocultura e Avicultura, de forma participativa e com apoio da assessoria técnica.

Este projeto de investimento tem como objetivo promover o desenvolvimento econômico e social das famílias, por meio da aquisição de novas instalações e equipamentos, melhoria das condições de produção e acesso a alternativas tecnológicas de convivência com o Semiárido.

Por meio das ações do PVSA a comunidade recebeu um investimento de R$ 147.297,23 que beneficiou 19 famílias da região.

Antes das ações do PVSA, as atividades agropecuárias da comunidade eram desenvolvidas de forma extensiva, a pastos nativos, devido ao pouco conhecimento e à ausência de tecnologias alternativas apropriadas. A falta de assistência técnica era um fator limitante ao desenvolvimento das atividades produtivas na comunidade.

Uma das maiores dificuldades enfrentadas pelas famílias, além da perda de animais, era manter o rebanho produzindo durante o ano todo, devido à falta de alimento no período crítico de estiagem durante seis meses do ano.

As parcerias trouxeram grandes mudanças na comunidade.

Para potencializar as atividades produtivas da comunidade, foram construídos seis apriscos e onze aviários, e implantados bancos de proteínas (sorgo, estilosante1 e palma forrageira). Através do PVSA, a associação também adquiriu diversos equipamentos: enfardadeiras, pistolas veterinárias, burdizo para castração, bebedouros, comedouros, cerca de arame, além de ração e vacinas.

Quanto à aquisição de animais, selecionaram e adquiriram vinte matrizes e um reprodutor de ovinos das raças Dorper e Santa Inês. As sessenta novas matrizes e um reprodutor de caprinos são das raças Boer e Anglo Nubiana. Oito criadores foram beneficiados, pois, com exceção de dois agricultores, todos os demais já possuíam alguns animais.

Foram criados dois grupos para o investimento em avicultura. Do grupo de galinha caipira, fazem parte quatro beneficiários/as, e cada um/a deles/as recebeu 23 matrizes de galinha caipira e aviários. No grupo de galinha caipirão, cada um/a dos sete beneficiários/as foi contemplado com 112 aves, sete aviários, ração e medicamentos.

O projeto também trouxe melhorias para a estrutura usada na criação e para o manejo dos animais. Antes do PVSA, as aves eram criadas soltas nos quintais, e agora a comunidade pode contar com os aviários. Além disso, receberam diversos cursos de capacitação, teóricos e práticos, na área de gestão da associação, gestão ambiental, em agroecologia, manejo de água e solo, sistema agroflorestal (SAF), implantação de banco de proteínas, produção de silagem e de rações, receitas alternativas e manejo de pequenos animais, visando melhorar as técnicas de criação de ovinos, caprinos e aves.

“Antes não dava certo, por que nós trabalhávamos de forma errada, não tinha conhecimentos. Então era difícil pra sobreviver da agricultura. Mas agora, como empreendedor, com os conhecimentos que ganhei, mudança total, graças o projeto e os profissionais que ajudaram a mudar pra melhor”, afirma um dos beneficiários das ações do PVSA, o Luís Honório.

O que mudou?

Com os investimentos realizados, houve incremento de renda das famílias, com a venda de aves, ovos e caprinos. Vejamos algumas dessas mudanças:

 

  • Houve redução de custos com o rebanho no período de estiagem, a partir da implantação do banco de proteínas e produção de silagem.
  • O grupo de aves caipira já dobrou a produção com o nascimento de pintos. As famílias já comercializam os ovos, além ter aumentado o próprio consumo desse produto.
  • A maioria das vendas de aves é realizada a comércios na sede do município; porém alguns já estão comercializando para o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA).
  • A renda média anual das famílias também melhorou. Antes, com a venda de caprinos, a renda era em torno de R$ 3.000,00, vendendo em torno de quinze animais por ano, ao preço médio de R$ 200,00 por cabeça (peso médio de 13 kg/cabeça, ao preço de R$ 15,00/kg). Seguido um cálculo estimativo de reprodução e perdas, com o PVSA, eles alcançam o potencial de venda de 22 animais por ano, aumentando a renda para R$ 4.400,00.
  • Com a venda de ovos, os produtores de aves caipiras já conseguem obter uma renda de R$ 150,00/mês (300 ovos, a R$ 0,50). Além disso, cada família consome por mês, aproximadamente, quatro galinhas e também vende em média quatro aves, a R$ 25,00 cada uma, o que representa um renda de R$ 100,00 mensais.
  • Quanto ao outro grupo, que tem criação de aves do tipo caipirão, ele desenvolve suas atividades com custo em torno de 70% da produção, considerando um galpão com 100 pintos. Assim, a receita líquida seria de R$ 525,00 por lote, sendo a retirada de três a quatro lotes por ano, com base em um ciclo de noventa dias para comercialização. Comparando-se com a renda mensal inicial de R$ 250,00, há um aumento de renda de R$ 175,00 por mês.
  • Outra grande mudança alcançada foi o conhecimento técnico adquirido através do Projeto Viva o Semiárido. Com as capacitações – apesar da pouca escolaridade de alguns beneficiários/as – houve melhorias nas práticas de manejo dos animais, o que refletiu em aumento da produção e produtividade.
  • Mais uma mudança significativa implementada pela assistência técnica foi a adoção do registro de dados de acompanhamento da evolução do rebanho.

O investimento produtivo atrelado à postura da assessoria técnica no acompanhamento das famílias beneficiárias e ao protagonismo, organização e compromisso da comunidade, foi determinante para o bom desempenho do projeto, o que o torna uma boa prática que pode inspirar outras pessoas.

 

Quem faz a experiência?

Essa é a experiência da Associação Comunitária Porenquanto no município de Barra D’Alcântara/PI.