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B Boas Práticas na Convivência com o Semiárido

Organização Comunitária
Comercialização em rede

COOPERCUC (Cooperativa Agro – pecuária Familiar de Canudos Uauá e Curaçá), iniciativa que inspirou a criação da Central da Caatinga.

 

O que é?

Essa é uma iniciativa pioneira no estado da Bahia para comercialização de frutas nativas, que desenvolve há mais de 15 anos um importante trabalho de formação em torno dos empreendimentos para o processo de comercialização de produção em Rede.

Esse processo de comercialização tem sido um dos maiores desafios das cooperativas dos agricultores familiares do semiárido baiano, e de muitas outras regiões do Brasil. Nesse sentido, para auxiliar e inspirar muitas outras pessoas, apresentamos aqui a experiência de comercialização em Rede, realizada no norte da Bahia, através da sua Central de Comercialização das Cooperativas.

 

Onde aconteceu?

 

 

A iniciativa envolve várias cooperativas e associações do Semiárido da Bahia.

 

Como aconteceu?

A Bahia é diversa e plural, com uma grande riqueza socioeconômica e cultural. Perfaz uma realidade complexa, devido à sua dimensão e diferentes biomas (caatinga, mata atlântica e cerrado). É o estado que possui o maior número de estabelecimentos rurais do país: 762,6 mil

Estes estabelecimentos são, na sua maioria, produtivos e estão representados por agricultores familiares, responsáveis por mais de 75% da produção de alimentos do país, tanto no que diz respeito à quantidade como em diversidade – nativas e exóticas. A maior parte deles segue uma base extrativista ou agroecológica, com grande aproveitamento da biodiversidade local, possível devido à ação organizada dos agricultores familiares em associações e cooperativas.

Apesar do potencial produtivo, essa região ainda apresenta muitas fragilidades e desafios, peculiares às condições socioambientais e econômicas. E é nesse sentido que se desenvolve a experiência da a Central de Comercialização das Cooperativas da Caatinga, denominada de Central da Caatinga, buscando sanar dificuldades de comercialização dos produtos na região.

 

Como implementar?

Apesar das dificuldades, as políticas públicas voltadas para agricultores familiares e suas organizações somente foram desenvolvidas no fim dos anos noventa do século passado. Instituições como o IRPAA (Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada), vêm desde então implementando eficazmente tecnologias sociais de convivência com o semiárido.

Estas tecnologias visam assegurar o fortalecimento das associações e entidades de base familiar, e de empreendimentos de economia solidárias. Oferecendo assessoramento técnico e continuo desde a década de 1990, a presença do IRPAA foi fundamental para articular e promover o surgimento de diversos grupos produtivos no Semiárido. Respeitando a biodiversidade local, e as particularidades locais, o Instituto fez com que os resultados pudessem chegar com naturalidade.

Dentro desse contexto, a Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR) e Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (CAR), em 2015, através do Pró-Semiárido, (projeto coordenado pela CAR, mediante acordo de empréstimo do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA) na região, traz a proposta de fortalecimento das organizações econômicas, visando estruturar ações de mercado.

Assim, se aproximando da então Rede Sabor Natural do Sertão (RSNS) – que já promovia e articula diversas ações em gestão de conhecimentos, gênero e viabilizava a comercialização dos produtos nativos de vários biomas da Bahia, Pernambuco e Piauí, além de supervisionar ações de uma cooperativa da região – o Projeto contribui com o processo de institucionalização da mesma. Inicia-se, assim, a Central de Comercialização das Cooperativas da Caatinga, denominada de Central da Caatinga, instituída em abril de 2016, com 9 cooperativas filiadas e mais de 20 empreendimentos, que compõem a sua base social.

As parcerias vem para fortalecer ações já iniciadas.

 

Comercialização de produtos da comunidade em feiras locais da região.

 

A Central da Caatinga é um resultado de intervenções capitalizadas. Nesse contexto, já nasce com o propósito de contribuir para o processo de estruturação e fortalecimento institucional dos empreendimentos da agricultura familiar/cooperativas e estabelecer ações de mercado.

Ela tornou-se um importante instrumento na solução de gargalos e obstáculos da gestão comercial tanto das cooperativas, como dos grupos produtivos da sua base social. Dando assessoramento técnico regular e sistemático, provou ser fundamental para estabelecer estratégias de comercialização em rede, no intuito de assegurar o acesso aos diferentes mercados através da articulação com outras redes de comercialização já consolidadas. Desta maneira, contribui para o fortalecimento da agricultura familiar e para a promoção do desenvolvimento sustentável das organizações econômicas de territórios da Bahia.

As cooperativas e os grupos produtivos da agricultura familiar enfrentam, historicamente, sérios desafios para escoar a sua produção e disputar espaço no mercado. A comercialização da produção se torna cada vez mais complexa e exigente, requerendo profissionalismo e conhecimento do setor.

Muitas cooperativas, antes produziam apenas para subsistência, e com isso não estavam preparadas para atender as demandas do mercado. Por essas e outras razões, o papel das Redes de Comercialização é fundamental na busca por caminhos alternativos que viabilizem essas condições.

Para potencializar e dinamizar ações como o planejamento da produção, a busca por selos e certificações, a oferta de produtos padronizados com identidade visual e marca comercial bem apresentados (rótulos, marcas e logomarcas), entre outras, a Central da Caatinga passou a promover espaços de debates e de construção de novos conhecimentos.

Por meio de empreendimentos na sua base social, vem promovendo intercâmbios e seminários, realizando cursos e oficinas sobre gestão de processos produtivos e comercias, e participando de feiras e exposições em diversas regiões do país e internacionalmente, para articular ações de acesso a novos mercados.

“A central é uma grande estratégia para os empreendimentos da agricultura familiar. Pra mim, a Central significa mesmo a oportunidade de negócio, geração de trabalho para as famílias, significa a viabilidade de um processo de gestão organizado e estruturado com suas singularidades.”, afirma o presidente da Central da Caatinga, Adilson Ribeiro.

A iniciativa reuniu muitos esforços e diversos integrantes de sua base social (agricultores/as, dirigentes das cooperativas, associações e empreendimentos produtivos de base, técnicos, parceiros, agentes públicos), na construção do seu planejamento estratégico e Plano de Negócio. O plano apresenta a estruturação da produção e comercialização dos produtos da agricultura familiar da sua base social.

O esforço coletivo de toda Central da Caatinga e de sua base social foi para consolidar, em um documento, as ações, metas, estratégias, atividades e orientações para os próximos 03 anos. Vai além de mera formulação de um planejamento: constitui um exercício de autorreflexão existencial e autogestão, que há tempos se processa e se esperava.

O que mudou?

Vamos ver algumas das mudanças alcançadas após a organização da Central da Caatinga:

 

  • Uma parceria vem sendo estabelecida entre diversas lojas de comercialização de produtos da agricultura familiar e a Rede Estadual de Comercialização da Bahia e a Central do Cerrado em São Paulo. Mais de 30 lojas no estado da Bahia vêm fortalecendo as ações comerciais em rede, e promovendo a comercialização dos produtos de vários biomas e diversas cooperativas.
  • Há também o investimento em empreendimentos ligados tanto à Central da Caatinga, como aos mercados em São Paulo. Em São Paulo trata-se de parcerias da Central do Cerrado e da Conexão Solidárias com uma loja no mercado municipal de Pinheiros, na capital. Estabelecem-se assim relações comerciais mais efetivas com os diversos mercados.
  • Construção do Armazém da Agricultura Familiar, um preposto regional de comercialização das cooperativas da agricultura familiar e economia solidária de todos os territórios de identidade da Bahia, que deve ser construído na orla de Juazeiro – polo do Sertão do Rio São Francisco, com uma população circulante próxima a um milhão de pessoas – com a finalidade de fortalecer a Central de Serviços e dar apoio à agricultura familiar.
  • Ações que visam ampliar e aperfeiçoar as atividades da Central da Caatinga, no que diz respeito à comercialização, distribuição e logística em Rede, junto às prefeituras e escolas públicas estaduais nas vendas pelo Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), aos supermercados, as padarias, lanchonetes e aos consumidores em geral. Fortalecendo as organizações econômicas do território.
  • Este esquema de ações inclui ainda o suporte logístico a todos os empreendimentos na distribuição de produtos e insumos. O projeto do Armazém da Agricultura Familiar conta com o apoio financeiro do Pro-Semiárido e faz parceria com a Prefeitura Municipal de Juazeiro, concretizando uma estratégia de desenvolvimento territorial e articulação de políticas públicas para o desenvolvimento sustentável dos empreendi – mentos da agricultura familiar e da economia solidária.
  • O Armazém também busca criar um ambiente gastronômico, com forte apelo comercial para promover e viabilizar a comercialização dos produtos da Caatinga e de outros biomas da Bahia e do Brasil: Mata atlântica e Cerrado. Estima-se que há de gerar receita para garantir a manutenção da Central da Caatinga.
  • Houve a inauguração de uma pequena loja no centro de Juazeiro, estruturada com apoio do IRPAA, através do projeto ECOFORTE e do Pro-Semiárido, através de acompanhamento técnico e assessoria permanente. A loja conta com uma variedade de mais de 300 itens, de 30 cooperativas da agricultura familiar. Doces, bebidas, derivados de mandioca, queijos – todos de base agroecológica e orgânicos, oriundos de várias regiões da Bahia e do Brasil – geram oportunidades de negócios, comercializando mais de R$ 20.000,00 por mês.
  • Lojas de comercialização vem se espalhando por todo o país, para viabilizar a comercialização das cooperativas filiadas à Central da Caatinga. Estas alavancam a diversificação e o intercâmbio de produtos com outras regiões do país que tra -balham com a produção agroecológica e orgânica.
  • Também já é uma realidade a integração de sistemas produtivos com outras cooperativas e redes de agricultores familiares. Rotas solidárias contam com a distribuição de produtos.

 

Em virtude dos novos desafios, a Central da Caatinga vem a cada dia consolidando o seu trabalho, prestando um importante serviço, contribuindo decisivamente para a transformação social de milhares de agricultores e agricultoras do semiárido baiano, e colaborando com a estruturação de processos organizativos, produtivos e comerciais de diversas organizações.

 

Quem faz a experiência?

Essa é a experiência da Central da Caatinga que atua no Semiárido da Bahia.