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B Boas Práticas na Convivência com o Semiárido

Recursos Naturais
Bioconstrução
O que é

Uma casa para os Encantados! A fabricação de tijolos ecológicos tem possibilitado a dez famílias da tribo Truká-Tupan melhores condições de vida no município de Paulo Afonso, na Bahia.

Com os tijolos ecológicos, a tribo pode desenhar e construir suas habitações de acordo com suas tradições e necessidades. E, além disso, respeitam o meio ambiente, não produzem queimadas nem desmatamento.

“Economiza muito e é um grande respeito que a gente tem com nossas matas, com nosso barro. Não é porque estamos na terra que temos que destruir nossas matas”, declara a cacique Maria Erineide Rodrigues da Silva, mãe de Adriano.

A primeira construção da tribo foi a oca, lugar sagrado para o grupo, onde acontecem as celebrações e reuniões da comunidade com visitantes e parceiros de projetos locais.

Segundo a cacique, foram os Encantados que fizeram o pedido. Eles também orientaram sobre a construção: a porta tinha que ficar de frente para a mata e para a serra.

A tribo já construiu também o espaço da fábrica de tijolos e deu início à uma cozinha comunitária.

A bioconstrução a partir dos tijolos ecológicos é uma forma de viver em moradias melhores, com menor custo que os das construções convencionais. E mais: ela é uma construção ecológica, sustentável, que promove autonomia e tem uma estética que se harmoniza com o meio ambiente.

Esta experiência dos Truká-Tupan teve início quando Adriano Rodrigues da Silva, filho da cacique da tribo, descobriu a máquina manual para a fabricação desses tijolos, feitos à base de solo e cimento.

Municípios Atendidos




Experimentador
Famílias da tribo Truká-Tupan

Dez famílias da tribo Truká-Tupan, que moram no Sítio Alto do Aratikum, a 7 km da sede da cidade de Paulo Afonso, na Bahia, são os experimentadores.

 

Fale com o Experimentador

Tribo Truká-Tupan
(75) 988-53-8872 (contato de Adriano Rodrigues da Silva)

Informações sobre a experiência

As famílias são oriundas da Aldeia Mãe Truká, em Cabrobó, Pernambuco.

Na Bahia, a Aldeia fica localizada numa região semiárida, às margens do Rio São Francisco. A cacique, que é a liderança do grupo, se chama Maria Erineide Rodrigues da Silva, também conhecida como Neide.

Os moradores da aldeia vivem da agricultura para consumo e venda na feira. Também criam animais como galinha, ovelhas, porcos e abelhas. Alguns deles fazem trabalhos externos, prestando serviços em geral.

Como funciona a experiência

De tijolo em tijolo, a tribo vai em frente, num processo que funciona com autonomia, economia de recursos e respeito à natureza.

Os Truká têm liberdade para construir – todos se juntam e dividem as tarefas. Um faz os tijolos, outro faz a fundação e, assim, as paredes vão subindo num trabalho coletivo, sem ser preciso pagar mão de obra externa.

Eles também contam com a beleza natural. Os tijolos são bonitos e combinam com a natureza – não precisam de reboco, massa corrida ou pintura, otimizando tempo e recurso.

Nada de quebrar parede. Os tijolos têm furos por onde passam os canos e os fios de eletricidade.

Se um tijolo quebrar na parede, é só retirá-lo e colocar outro no lugar, quebrando de um lado da parede e de outro e encaixando duas metades de tijolo.

As bioconstruções não possuem concreto. Para dar liga entre os tijolos, os Truká utilizam argamassa. Antes, faziam uso da cola tenaz.

Apesar do material para a construção precisar ser comprado, os próprios tijolos podem também servir de geração de renda ao serem comercializados e, assim, cobrir o custo do material.

“Esse tijolo não tem queima e não está destruindo as matas, que o maior impacto que a gente sofre é a falta da Caatinga”, diz Adriano.

Implementar

A fabricação dos tijolos tem início com a escolha do barro – a massa para ser colocada na máquina é uma mistura de barro com cimento e um pouco de água.

Segundo os Truká-Tupan, o barro bom não suja a mão, enquanto o ruim deixa a mão suja como se fosse pó.
Eles ainda ensinam que o ponto da massa misturada é o de amassar um pouco na mão e conseguir quebrá-la ao meio sem esfarelar.

A máquina de fabricação de tijolos pode ser manual ou hidráulica. O equipamento mistura a massa ou tritura os tijolos que não deram certo. Dessa forma, todo barro é aproveitado.

Tijolo pronto? Agora é deixar ele passar por uma cura, de 10 a 15 dias, coberto com lona preta para manter a umidade.

Na hora da construção, vale ficar atento às dicas a seguir:

A liga entre um tijolo e outro é feita com cola tenaz ou argamassa. No início, os Truká utilizavam a cola, mas como por ser um processo mais demorado, optaram pela argamassa. Um pouquinho já é suficiente.

Depois da parede levantada, é recomendável passar a argamassa também onde ficam os buracos entre os tijolos. Isso funciona como acabamento e não deixa espaço para a entrada do barbeiro nem outros insetos. Para maior durabilidade, a dica é passar impermeabilizante e verniz no acabamento.

Outro diferencial é que não precisa quebrar nada para colocar a parte hidráulica e elétrica na construção. Isso porque os canos e os fios de eletricidade passam pelos furos dos tijolos.

A máquina permite a construção dos tijolos e das “canaletas” por onde passam os ferros para sustentação da construção. Primeiro, os Truká-Tupan fazem a fundação, que chamam de “sapata”.

De acordo com Adriano, o segredo é começar pelos cantos da casa porque os tijolos têm de estar encaixados de forma cruzada.

A manutenção á simples: se um tijolo quebrar, mesmo na parede, é possível fazer a substituição.

Adiantou de quê?

A cacique Neide diz que “quando a gente compara o antes e o depois chega a dar felicidade. A aldeia está ficando muito linda. Mudou muita coisa e estamos lutando pra mudar ainda mais, principalmente a construção de nossas casas”.

Com os tijolos ecológicos, os Truká-Tupan passaram a ter uma perspectiva de melhoria de vida para famílias e para as crianças que já sonham como serão seus quartos, suas casas, sua escola. Além disso, a venda desses tijolos funciona como uma alternativa de geração de renda.

Os Truká ainda precisam levantar recursos para concluir a construção da cozinha. Com ela pronta, a ideia é alugar o espaço para encontros de parceiros e intercâmbios de conhecimentos.

Há planos também de construir uma lavanderia, casas de família, escola e um posto de saúde.

“É uma esperança de construirmos nossas casas respeitando as matas e a terra. Dá muito trabalho, é muito esforço, mas acreditamos no tijolo ecológico. O povo Truká-Tupan é um povo de fé, um povo trabalhador”, declara a cacique.

Desenrolar da História

Essa história começou quando Adriano, filho da cacique Neide, conheceu a máquina manual de fabricar tijolos ecológicos na casa do Paulo Wataru, que integra a Comissão Ecumênica dos Direitos da Terra – Cediter.

Sem uso na casa de Paulo, a máquina ganhou vida ao chegar no Sítio Alto do Aratikum. A primeira construção feita a partir dos tijolos ecológicos foi a oca, uma vez que a antiga, que era de palha, pegou fogo.

Segundo a cacique, os Encantados pediram para construir logo outra oca, que é um lugar sagrado para eles. É lá que acontece o “toré” e as reuniões da comunidade com visitantes e parceiros de projetos locais.

“Nossas casas ainda são de taipa. Queremos fazer de tijolo ecológico. No início ficamos desconfiados com a cola, com dúvida se ia sustentar, mas a oca tem quase 4 anos e está do mesmo jeito. Por isso, temos a confiança agora”, diz Adriano.

Após a construção da Oca, os Truká construíram a fábrica dos tijolos, um muro de entrada com cercado aproveitando os tijolos que não haviam sido utilizados e deram início à construção da cozinha comunitária.

Os tijolos que estavam estourando haviam sido feitos com o barro da própria aldeia, que, segundo eles, tem muito sal e precisa ser corrigido com outros materiais para ter mais resistência.

Nenhum tijolo é jogado fora na aldeia. Ele é reaproveitado nas próprias construções ou destruído e jogado na máquina para uma nova mistura da massa.

Depois de muitos testes, os Truká descobriram um barro com melhor composição na comunidade Água Branca, em Alagoas, onde agora compram as carradas, que custam em torno de 600 reais e dá para fabricar cerca de 6.000 tijolos, segundo Adriano.

Depois da máquina manual, o grupo conseguiu uma máquina de prensa hidráulica para fabricar os tijolos, com apoio do Instituto Acção de Paulo Afonso, por meio do Projeto Ação Socioambiental do Semiárido.

Quem apoia

Esta experiência conta com o apoio da CEDITER – Comissão Ecumênica dos Direitos da Terra.

Contato:

Comissão Ecumênica dos Direitos da Terra (CEDITER)

(75) 3221-8723

http://www.cediter.org.br

cediter_feira@yahoo.com.br