Para armazenar água da chuva em sua propriedade, o agricultor Marcondes Lima Dias não pensou duas vezes: resolveu construir uma barragem subterrânea – a primeira em seu município. A tecnologia funciona como um reservatório, armazenando a água das enxurradas e de pequenos riachos intermitentes.
O motivo da escolha de Marcondes é que a barragem acumula uma grande quantidade de água em um curto intervalo de tempo, com capacidade para até 25 milhões de litros.
A decisão em implantar a barragem subterrânea tem razão de ser: ela melhora as condições para a produção de alimento e fornece água para dar de beber aos animais, facilitando também a rotina doméstica. Além disso, o agricultor queria criar condições para trazer os irmãos, que foram trabalhar em São Paulo, para perto. “Com uma tecnologia dessa a gente tem a perspectiva de melhoria de qualidade de vida, gerar emprego e renda e trazer a família de volta pra ficar todo mundo unido, né? ”, comenta.
A barragem fica em Piranhas, no Semiárido de Alagoas. É lá que o agricultor exerce suas atividades, entre elas, a criação de hortas e animais.
Municípios Atendidos


Nascido em Paulo Afonso, na Bahia, hoje Marcondes Lima Dias mora no Distrito de Piau, em Piranhas, no Semiárido alagoano.
Agricultor familiar, trabalha com hortas e cria pequenos animais para produção e comercialização da carne.
Marcondes Lima Dias
(82) 999-22-0664 ou (82) 996-52-0339
Há dois anos, decidiu diversificar e acumular mais uma função: a de apicultor.
Ele também atua no Centro Xingó de Convivência com o Semiárido, instituição que viabilizou, junto com Instituto Brasileiro de Desenvolvimento e Sustentabilidade (IABS), a construção da barragem em sua propriedade.
Além de todas essas atividades, também é professor de Matemática.
A barragem subterrânea é uma espécie de parede construída dentro da terra que armazena as águas que escorrem no interior do solo e em cima dele, o que faz com que o terreno fique molhado após a chuva. É simulando o comportamento dos lençóis freáticos que ela consegue tal feito.
Para seu funcionamento, é necessário também construir um poço no local mais profundo da barragem, permitindo a retirada de água para o uso.
Chamado poço amazonas, ele permite o aproveitamento da água da barragem quando ela se encontra nas camadas mais profundas do solo. Além disso, possibilita a renovação da água, evitando a salinização do solo da barragem.
O tamanho e a profundidade da barragem subterrânea podem variar. O mesmo não é possível dizer sobre o processo de construção, segundo Marcondes. Ele é enfático ao afirmar que não dá para mudar muito a estrutura e a forma de implementar a tecnologia
“Pode até ser pensado algo para melhorar, mas corre risco. O correto é seguir o passo a passo”, recomenda.
Ele continua: “se você escolher um local inadequado, um terreno que tenha salinização, você vai ter problema futuramente com a salinização do solo. Se quiser diminuir a profundidade e não cavar até o impermeável, vai ter problema de vazamento. Se não colocar uma lona de 200 micras, colocar uma de 150, a durabilidade daquela lona vai ser menor, pode ocorrer risco de vazamento. O que pode fazer é diminuir ou aumentar a altura do sangradouro. Quanto mais alto o sangradouro pode ter também o perigo de aumentar a pressão e ele estourar. ”
Depois de escolhido o lugar mais indicado, mãos à obra.
Na experiência de Marcondes foram necessários:
-150 metros de lona de 200 micras de espessura;
-1500 tijolos para o sangradouro, para a chumbação da lona e para o poço amazonas
-40 vergalhões de ferro de ¼ para o sangradouro
-10 estribos de arame
-5 kg de arame queimado (mais fino que amarra)
-120 sacos de cimento
-15 mil litros de água
-27 metros cúbicos de areia
Passo a passo
1º. passo – Cave buracos com 2 e 4 metros de profundidade para testar a área de construção da barragem. No fim da tarde coloque água e veja, 12 horas depois, como está: se tiver com até 70% da água, é sinal de que a escavação está perto do solo rochoso, que não permite a passagem dela. Também faz parte do processo conferir a salinidade do solo: “Se tiver muito sal, a implementação não dá certo”, explica Marcondes.
2º. passo – Em seguida, cave uma vala e coloque uma lona plástica de 200 micras para conservar a água no subsolo. Na base, o indicado é chumbar com tijolo e cimento, para a lona ficar bem firme. Depois, coloque de volta a terra que foi retirada da vala. Cuidado para não rasgar a lona.
“A lona não pode ir só até a altura do buraco. Tem que passar pelo menos uns dois metros acima. Você vai levantando e vai compactando aquela área para segurar a estrutura”, recomenda o experimentador.
3º. passo – Lona já colocada, chegou o momento de construir o sangradouro, por onde vai sair o excesso de água. O tamanho depende de cada barragem.
4º. passo – Levante as ombreiras, que é aquele paredão que fica acima da vala.
5º. passo – Próximo ao sangradouro, fure o poço amazonas. “De acordo com o local mais fundo da barragem, que é o sangradouro, faça o poço. Ele serve para identificar e monitorar a água da barragem e também retirar para fazer irrigação”, diz Marcondes.
Para a manutenção da barragem subterrânea, sugere-se realizar análises da qualidade do solo e do nível da água, frequentemente, e renovar a água da bacia de acumulação, por meio do poço. Essa prática é boa para evitar a salinização do solo.
O agricultor Marcondes optou, ainda, por reforçar a compactação das ombreiras da barragem com a utilização de uma retroescavadeira.
A barragem subterrânea facilita a produção de hortaliças para consumo e venda e, também, de plantas forrageiras para alimentar o rebanho. Com ela, é possível reflorestar a área com plantas nativas da Caatinga.
Marcondes aponta algumas vantagens dessa tecnologia: “quase não se perde água com a evaporação e ainda pode produzir na própria área da barragem porque o solo se mantém úmido. A água da irrigação também infiltra no solo e volta para a própria barragem. Aqui no Semiárido, a gente tem muita dificuldade com água e com essa tecnologia a gente armazena o máximo de água que poderia ter e dá uma melhor qualidade de vida para família, tem uma produção melhor”, conta.
Com tantas possibilidades, é grande a animação de Marcondes para quando ela estiver em plena atividade: “vai dar uma grande melhoria na rentabilidade e na nossa sustentabilidade lá. Vou poder aumentar a produção de horticultura, fruticultura, ter um maior armazenamento de água, produzir mais forragem irrigada para meus animais, inclusive, diminuir o rebanho, porque pretendo reflorestar uma área lá”, planeja.
A implementação da barragem subterrânea na propriedade de Marcondes foi possível por causa de um projeto piloto de reaplicação de tecnologias sociais realizado pelo Instituto Brasileiro de Desenvolvimento e Sustentabilidade (IABS) e que se inseriu nas ações do Centro Xingó de Convivência com o Semiárido. No total, foram 20 famílias participantes que puderam escolher diferentes tecnologias para serem reaplicadas em suas propriedades. A família de Marcondes foi uma delas.
O processo de construção, que teve início em um período de chuva, foi um dos mais complexos, conta o agricultor. “O terreno também dificultou. Tinha muita pedra no caminho. Os caras cavaram tudo na pá. A retroescavadeira só conseguiu cavar até 3 metros e meio. Tinha 10 homens trabalhando direto durante 50 e poucos dias”, lembra.
O agricultor esperou 91 dias desde o início da escavação. O fato de ter sido feita quase toda manualmente e de haver muitas pedras no terreno fez com que o período de construção fosse mais longo.
Os desafios, no entanto, não o desanimaram: “Tem que acreditar que vai dar certo porque, se não tiver força de vontade, na metade você para. Muita gente passava e dizia que eu era doido. Eu dizia: “deixa o doido trabalhar que vai dar certo!”.
Esta experiência conta com o apoio do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento e Sustentabilidade (IABS) e Centro Xingó de Convivência com o Semiárido.
Contato:
Instituto Brasileiro de Desenvolvimento e Sustentabilidade (IABS)
(61) 3364-6005/ (82) 3313-4130
iabs@iabs.org.br
Centro Xingó de Convivência com o Semiárido
(82) 9 9905-8754
cursos@xingo.com.br