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B Boas Práticas na Convivência com o Semiárido

Organização Comunitária
Artesanato em couro

Couro sendo curtido pela Arteza, em Cabaceiras/PB.

 

O que é?

Já ouviu falar na Roliúde Nordestina? Pois é de lá que vem essa história!

Em referência aos vários filmes que já foram rodados na região, sendo um dos mais famosos o “Auto da Compadecida”, a cidade de Cabaceiras ganhou esse título de Roliúde Nordestina.

O fato de se realizar gravações de filmes nessa localidade deu visibilidade ao município e ampliou o turismo, transformando o município em uma rota cinematográfica. Além disso, outros ativos da região que convocam turistas de diversas procedências são o Lajedo de Pai Mateus, famoso por sua formação rochosa, e a Festa do Bode Rei realizada a cada ano.

É neste contexto que surge, em 1998, uma cooperativa de curtidores e artesãos em couro, que hoje conta com uma significativa variedade de produtos oriundos do couro de ovinos e caprinos que buscam atender à demanda dos turistas que visitam a região.

 

 

Onde aconteceu?

 

Essa é a experiência da Cooperativa dos curtidores e artesãos de couro de Ribeira de Cabaceira – ARTEZA, localizada no estado da Paraíba, Território do Cariri Oriental, estado da Paraíba.

 

Como aconteceu?

Em meados dos anos 90, têm início as atividades da Arteza. O senhor José Carlos Castro, conhecido por senhor Carlinhos, com o intuito de preservar a profissão do artesão em couro que estava em queda, bem como trazer opções ao processo de êxodo rural e a falta de emprego no distrito de Ribeira, começou a planejar uma forma de fortalecer a produção do couro novamente e devolver a identidade da comunidade rural da Ribeira.

Da ideia partiu-se para a prática! Buscou parceiros para criar uma associação que só mais tarde se transformaria em uma cooperativa. Inicialmente ele contou com o apoio da prefeitura de Cabaceiras, e em seguida contou com o apoio do governo do Estado. Posteriormente conseguiu o apoio do SEBRAE e do SENAI. A partir da articulação destes parceiros, no ano de 1998, foi fundada a Arteza que a época contava com 28 sócios e atualmente conta com 71 associados, beneficiando mais de 300 famílias, com destaque para os jovens da comunidade.

 

Como implementar?

Aqui vamos apresentar um pouco mais dessa trajetória da Arteza e conhecer quais foram as principais características que levaram essa experiência a se tornar uma inspiração para muitas outras.

Segundo os diretores da Arteza, uma das chaves para o sucesso foi a constituição de seu regimento interno no qual foram estabelecidas normas sobre o tipo de artesanato a ser produzido, e a especialização por cada um dos integrantes em um produto específico para evitar a concorrência interna entre os sócio, ou seja, cada um ficaria responsável por produzir um tipo de produto derivado do couro.

Em termos de parcerias, a Prefeitura Municipal de Cabaceiras foi fundamental, pois precisavam que alguém acreditasse na ideia. Para isso o papel desempenhado pelo Prefeito da época, Junior Aragão, foi importante, principalmente quando cria a festa do Bode Rei.

Outro parceiro importante foi o SEBRAE com sua assessoria e capacitação para os membros da Arteza. Foi a partir da parceria que os produtos da Arteza ganharam um padrão de qualidade, bem como começaram a participar de feiras e eventos.

O Governo do Estado, desde a constituição da Arteza, foi fundamental no apoio financeiro para a aquisição de equipamentos e infraestrutura. Mais recentemente um parceiro que merece destaque é o SESCOOP (Serviço Nacional de Aprendizagem no Cooperativismo) com a orientação de gestão de negócios que tem sido fundamental para a expansão das vendas e profissionalização do trabalho da Arteza.

 

Á esquerda, o couro, matéria prima para a produção da Arteza; à direita, peças em exposição.

 

Cooperação e consciência ambiental que fazem a diferença!

Outro aspecto importante é o envolvimento familiar, principalmente a partir das oficinas localizadas nas casas dos cooperados. Segundo Lucas, diretor da Arteza, as oficinas na casa das famílias possibilitam que a técnica seja passada de geração em geração, e gera mais oportunidade de emprego e ingressos econômicos.

Sobre o funcionamento da cooperativa, ele é uma espécie de roda-gigante. A Arteza recebe o produto do artesão pelo preço mínimo, coloca 4,5% em cima de lucro e vende aos comerciantes. Ao receber o dinheiro, a cooperativa repõe o valor do artesão, paga os seus custos, como folha de pessoal e manutenção. No começo de todo ano é feita uma assembleia para definir o que será feito com o lucro.

Além da organização da Cooperativa e seus avanços em termos econômicos e sociais, a Arteza desenvolve atividades que diminuem o impacto ambiental de sua atividade para o qual fazem o curtimento com matérias primas de origem vegetal. As práticas convencionais utilizam o cromo que é altamente prejudicial à saúde e ao meio ambiente. Na técnica usada pela Arteza utiliza-se casca do angico de onde é extraída uma seiva chamada tanino responsável por curtir o couro. Para os diretores o couro é o pulmão da comunidade da Ribeira.

A produção de artesanato em couro conta ainda com o uso de placas solares entregues pelo Projeto de Desenvolvimento Sustentável do Cariri, Seridó e Curimataú (Procase) – Programa que trabalha pelo desenvolvimento do Semiárido Paraibano e conta com financiamento do Governo do Estado da Paraíba e do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA)  –.

O artesanato passou a ser fator importante no processo de geração de renda, fortalecimento da cultura local e indutor para aumento da consciência ambiental por parte dos artesãos, que já perceberam a necessidade de adotar técnicas naturais, não só para valorizar o produto final, mas também para preservar a sua saúde. Os artesãos passaram a adotar técnicas produtivas consorciadas com o uso dos resíduos animais da preparação do couro para reestruturação de estrutura e fertilidade do solo.

O que mudou?

Com as ações da Arteza, além da geração de renda, outras mudanças podem ser observadas na comunidade, vejamos aqui algumas delas:

  • Protagonismo juvenil. Atualmente as jovens lideranças exercem funções no processo administrativo da cooperativa, inclusive fazendo parte de sua gestão. Isso ajudou no surgimento de mudanças na forma de pensar o processo produtivo.
  • Graças às iniciativas dos jovens foi criada uma loja com mostras da diversidade de artesanatos criados pelos associados de Arteza. De igual maneira, participam de feiras e exposições dentro e fora do Estado o que, junto com a assessoria feita pelo SEBRAE, tem contribuído na qualidade dos produtos e na gestão cooperativa.
  • O trabalho em conjunto ajudou no fortalecimento da rede de produção e comercialização, reconhecendo na cooperação um caminho para garantir a diversidade de produtos, com qualidade, quantidade e regularidade na oferta, pois, ao invés de cada artesão procurar produzir e vender seus produtos individualmente, começaram a somar forças, fortalecendo a capacidade produtiva.
  • Segundo um dos integrantes da associação, trabalhar com o couro gera nos indivíduos locais um sentimento de pertencimento pela transmissão de conhecimento de geração a geração. “(…) se não fosse o couro, provavelmente eu teria saído da comunidade, como eu tem um monte aqui. Eu faço o que meu pai me ensino, e produzo da forma que ele produzia”, afirma o diretor da Arteza, Lucas.

Com todas essas mudanças, a Associação enfrenta alguma um entrave que a pouca integração entre o produto final e a produção de matéria prima que é o couro de caprinos e ovinos. Apesar da região ser uma grande criadora de caprinos e ovinos, o couro destes animais ainda é tratado como um subproduto. Ou seja, o couro utilizado pela Arteza é quase todo vindo de fora. O que em certa medida torna o processo produtivo mais oneroso. Sem contar que a produção local desta matéria prima poderia gerar mais capital na comunidade.

A cooperativa tem consciência dessa limitação, e busca vencê-la, mostrando a cada dia a viabilidade de seu empreendimento o que ganho econômico e cultural que ele agrega a região.

 

Quem faz a experiência?

Essa é a experiência da Cooperativa dos Curtidores e Artesãos de Couro de Ribeira de Cabaceira (ARTEZA), localizada no município de Cabaceiras/PB.