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B Boas Práticas na Convivência com o Semiárido

Organização Comunitária
Arte popular engajada
O que é

A arte que produzimos não está no palco parada
Está na terra plantada
Brotando convicção
Envolvendo uma geração
No movimento da história
No resgate da memória
A cultura vem na guia
Canta, dança rebeldia
Na luta rumo à vitória
(Rafaela Alves).

 

É luta em forma de arte! É arte em forma de luta!

O Grupo Cultural Raízes Nordestinas, do município de Poço Redondo, aposta na arte-educação, feita com e para jovens do Alto Sertão Sergipano, como estratégia de valorização da identidade sertaneja e melhoria da qualidade de vida das populações. A inspiração vem do que vivem e veem ao redor: o Semiárido e suas singularidades.

Associado a um movimento maior, de luta por terra, alimento e vida digna no sertão, o grupo contribui para manter o jovem no campo.

A experiência se destaca pela gestão e pela metodologia: são jovens formando jovens, fazendo da arte uma ferramenta de transformação do campo.

“O ponto chave do Raízes é que nossa arte dialoga com a realidade do nosso povo, as pessoas se veem na arte”, conta Jean Marx Santos dos Anjos, de 17 anos, um dos jovens do grupo.

Letícia Maria Batista Rafael, de 12 anos, completa: “A gente faz uma arte engajada na luta. Pega um tema da realidade e mostra paras pessoas em forma de teatro.

Municípios Atendidos




Experimentador
Associação Cultural Raízes Nordestinas (Acrane)

A experiência é implementada pelo Associação Cultural Raízes Nordestinas (Acrane).

Atualmente, fazem parte do grupo cerca de 15 jovens agricultores e/ou filhos de agricultores.

Fale com o Experimentador

Grupo Cultural Raízes Nordestinas
(79) 999-73-5757 ou (79) 999-67-8869 (contatos de Euziane Rafael da Silva e Rafaela da Silva Alves)
viverjunto@yahoo.com.br
Facebook: TeatroRaizesNordestinas
Instagram: TeatroRaizes_oficial

Informações sobre a experiência

O grupo tem espaço próprio com capacidade para 150 pessoas. Lá acontecem exibição de filmes, exposições, apresentações e outras atividades culturais.

Também são oferecidas, gratuitamente, oficinas de teatro e música (sanfona, percussão, flauta, teclado e violão).

São 15 anos de vida e muita história já contada! O Grupo de Teatro Raízes Nordestinas produziu centenas de peças e esquetes – entre criações suas, adaptações de clássicos e de obras da dramaturgia sergipana.

Os jovens ressaltam que os clássicos são sempre adaptados à realidade deles: “tem que ser do nosso jeito, com nossa musicalidade, nossa sanfona, nosso jeito de produzir não pode se desvincular da realidade”.

Como funciona a experiência

Jovens que formam jovens. Esse é um dos principais diferenciais da iniciativa. A experiência se destaca também pelo modelo de gestão e pela proposta pedagógica, associada às transformações sociais.

Gestão
O modelo de gestão do Grupo Teatral Raízes Nordestinas é caracterizado por ser participativo e não hierarquizado. Todo mundo participa e as decisões são tomadas de forma coletiva.

Em média, uma vez por mês, todo o grupo se reúne para avaliar as atividades e planejar novas ações. Há, também, uma rotina diária de encontros.

Equipes de trabalho facilitam o dia a dia: comunicação; teatro; música; autossustentação e cuidado do espaço.

Destaque para o trabalho da equipe de autossustentação, que pensa e implementa estratégias para garantir a sustentabilidade do grupo.

Um exemplo é a exibição de sessões de cinema que acontecem no Teatro Raízes Nordestina.

Na coordenação, o mais novo tem 16 e a mais velha tem 31 anos. Quem está à frente vai capacitando os outros, para que eles possam assumir outras funções dentro do Grupo.

Formação artística
O Grupo oferece oficinas de música e teatro, gratuitamente. Entre as atividades estão: oficinas de sanfona, percussão, flauta, teclado e violão. Além disso, há o grupo de Forró Pé de Serra Raízes Nordestinas.

Isso sem dizer do curso de teatro, que tem carga horária de 40 horas.

Dramaturgia
Cada montagem tem uma dinâmica própria. São várias as etapas, desde os estudos mais profundos sobre as diferentes correntes do teatro, até chegar na construção dos personagens.

“O Segredo do Poço Redondo”, espetáculo mais recente do Grupo, foi feito em nove meses, com a direção de Raimundo Venâncio. Neste período, o grupo se reunia uma vez por semana para um ensaio geral. Quinze atrizes e atores fizeram 35 personagens, construídos de forma coletiva.

Teve ainda laboratório de montagem com oficinas de criação de figurino, de cenário, de personagem, estudo de texto, entre outras atividades. Os figurinos e os adereços foram criados pelos próprios jovens, a partir de oficinas com profissionais.
O Grupo já teve apoio de artistas que vieram capacitá-los em confecção de figurino e técnicas teatrais.

Euziane Rafael da Silva, que também é uma das fundadoras do grupo, explica que formações junto a profissionais de teatro foram amadurecendo a forma do grupo de fazer teatro: “antes a gente achava que se o texto falava mesa, tinha que ter uma mesa no palco, aos poucos fomos percebendo que não era bem assim”.

Mais de 7 mil pessoas já assistiram ao espetáculo O Segredo de Poço Redondo, que passou por 13 comunidades rurais de Poço Redondo, municípios e eventos estaduais, como o Festival Sergipano de Teatro.

A história mostra a saga de Chico de Poço Redondo e Glorinha de Maranduba que deixam tudo para trás para ir em busca de um segredo quase revelado por Padre Cícero num sonho tido por Chico. Em suas andanças, vão cruzando com personagens que compõem o cotidiano do Sertão e a cultura popular, como ciganas, cordelistas, mestres populares, andarilhos.

Ao descobrirem o segredo, Chico e Glorinha compreendem melhor a realidade em que vivem e passam a construir um olhar mais voltado à convivência com o Semiárido, reconhecendo as potencialidades da região.

Além de atuar, os integrantes do grupo também declamam poesia e cordel. Cantam também.

Um exemplo é o CD Canção Camponesa do Semiárido, que reúne produções sobre a identidade sertaneja e o dia a dia no Semiárido.

Implementar

Para acolher as histórias criadas e vividas pelo grupo, ter uma sede própria é importante. Esse espaço, garantem os integrantes do Grupo, contribui para o desenvolvimento das atividades de formação artística e para o bom funcionamento e sustentabilidade da iniciativa.

E já que estamos falando de uma arte contextualizada com o Semiárido, nada melhor do que trocar experiências e conhecer outras realidades para melhor entender as diferentes nuances da região. Intercâmbios e capacitações dão fôlego à iniciativa e incrementam a criatividade!

“Recebemos muita gente aqui, mas queremos sair mais, conhecer outros grupos, trocar com outros jovens”, diz Rafaela.

Para dar vida a esse conhecimento, evitando que ele se perca com o tempo, o grupo entende a importância de ações de comunicação e sistematização. Afinal, é aí que se encontra o diferencial da experiência: nos saberes produzidos, a partir de um elemento que não pode faltar: clareza política.

Importante também é atrair diferentes jovens para participarem das oficinas. A mobilização é no “corpo a corpo”. Um começa a frequentar o grupo, gosta, fala para o outro e assim vai se formando uma rede de meninas e meninos que participam das atividades.

Com tanta gente participando, é um desafio manter a coesão. A convivência nem sempre é fácil. A diferença de idade, de percepções e de realidade (o grupo reúne gente do campo e da cidade) faz com que os educadores reavaliem suas práticas e o grupo reveja, constantemente, suas bases pedagógicas.

Quanto o assunto é montar uma peça, entram em cena, também, outros desafios: conseguir recurso suficiente para cobrir todos os custos – um carro próprio para logística faz falta, por exemplo – e manter o compromisso de todos os integrantes do grupo, uma vez que o trabalho é voluntário, são alguns deles.

A iniciativa não conta com apoiadores fixos, o que dificulta a manutenção das atividades e a permanência de alguns jovens no grupo e, até mesmo, na cidade. Para evitar que isso aconteça, nada de fechar as cortinas: “Quando tem um projeto que apoia damos um passo mais largo, mas quando não tem, a gente faz do mesmo jeito”, diz Rafaela.

Integrantes do grupo acreditam que capacitações em gestão e captação de recursos podem ajudar a fortalecer a iniciativa e melhorar o caixa. Apesar de sempre escreverem projetos para captar verba, são muitas as dificuldades encontradas no caminho.

Para dar visibilidade ao grupo e suas ações, eles têm redes sociais como o Facebook e o Instagram, mas dizem que o que costuma dar resultado é mesmo aquela divulgação “corpo a corpo”, que chega mais junto do público.

Tem ainda cartazes artesanais distribuídos em diferentes pontos da cidade da área rural, carro de som, aviso nas rádios e idas às escolas para convidar estudantes, entre outras ações.

Adiantou de quê?

A arte transforma. Tem sido assim com essa experiência. Entre as principais mudanças apontadas está o fato de que os jovens passaram a enxergar o mundo e a realidade em que vivem com uma consciência política maior.

A partir do que vivem no grupo, se despertam para a diversidade cultural e as tradições do próprio município.

Adiantou que o olhar mudou. Cada jovem, com sua vivência, tem sido estimulado a permanecer no campo, fazendo arte e militância.

“Mudei muito, modifiquei meus pensamentos políticos, a forma de enxergar as coisas. Aprendi sobre cultura popular. Eu nem sabia que existia tanta cultura aqui em Poço. Aprendi aqui”, conta Marcelo, de 16 anos.

Uedna diz que “não pensava sobre a realidade dos nordestinos, não enxergava a realidade que tava por trás das cortinas”.

Vale frisar que a atuação do grupo extrapola os limites geográficos de Poço Redondo, já que ele faz um trabalho de multiplicação de sua metodologia, capacitando crianças, adolescentes e jovens de municípios vizinhos. Essa iniciativa contribui, portanto, para estimular a criação de novos grupos.

Desenrolar da História

Essa história boa de ser contada começou quando cerca de 40 jovens de comunidades camponesas do Alto Sertão Sergipano decidiram se reunir de vez para se expressar por meio da arte. “Nosso laboratório de criação sempre foi a roça”, conta a atriz e pedagoga Rafaela da Silva Alves, uma das fundadoras do Grupo.
Autodidatas e experimentadores – iam aprendendo enquanto experimentavam – tinham como missão fortalecer a luta pela emancipação no campo a partir da organização e da formação da juventude por meio do teatro e da educação popular, além de valorizar e resgatar a cultura popular nordestina.

“O grupo nasce em um contexto que a juventude queria se organizar, queria inovar, fazer algo diferente na comunidade”, relembra Rafaela.

Movidos por esse desejo, os jovens, ligados à Igreja Católica e moradores das comunidades camponesas de Queimadas e Maranduba fundaram o Grupo de Teatro Raízes Nordestinas. Era 2001. Antes, esses jovens eram conhecidos como Juventude União Base da Confraternização (JUBC).

Quatro anos depois, em 2005, o grupo se formalizou por meio da fundação da Associação Cultural Raízes Nordestinas (Acrane). Naquele ano, eram 20 jovens. A formalização foi para tornar mais fácil o acesso aos editais e demais possibilidades de financiamento.

Foi a partir da articulação com o Movimento de Pequenos Agricultores Rurais (MPA), em 2011, que o grupo passou a ressignificar a arte que fazia. “Nós fazíamos nossa arte sem teoria. A estética era nossa intuição. Nós já fazíamos, só não sabíamos quais eram suas bases teóricas e técnicas. O que nós fazíamos tinha muito a ver com a agitação e propaganda que os russos faziam em 1917 para conscientizar a população sobre sua realidade”, destaca Rafaela.

Com essa articulação, passaram a fazer parte da Juventude do MPA e tiveram formação na militância, com aula e reuniões frequentes. Assim se fortalece a formação política dos jovens que fazem parte da iniciativa.

Cerca de três anos depois da fundação do grupo, os participantes tiveram acesso ao primeiro curso de teatro, ministrado por um diretor teatral. Montaram a peça O Delis – Desenvolvimento Local Integrado e Sustentável. A partir daí, os integrantes começaram a participar de espaços de articulação como conselhos de direitos, entre outros.

O tempo foi passando, outras peças sendo montadas. Entre os temas, a criação de cabras no sertão e outros assuntos ligados à realidade sertaneja.

Se agora não faltam aplausos, no início havia resistência com famílias e escolas. “Hoje, são todos admiradores. A população de Poço Redondo toda admira nosso trabalho. Aqui qualquer coisa que a gente faça enche a casa, sem muito esforço na divulgação”, ressalta Rafaela.

Outro desafio foi a falta de um espaço para encontros, apresentações e atividades formativas. No início, contaram com apoio de escolas de Poço Redondo e comunidade vizinhas para terem onde se encontrar. Atualmente possuem uma sede.

Na trajetória desses jovens, diversas parcerias contribuíram para importantes conquistas. Com apoio do Projeto Dom Helder Camera, a partir do projeto “Arte em Movimento”, por exemplo, eles puderam circularam por 20 comunidades camponesas e conhecer diferentes expressões culturais. A iniciativa permitiu trocas de experiências, oficinas e apresentações teatrais.

O projeto, implementado em 2009, estimulou a criação de novos grupos de teatro em Sergipe, como é o caso do grupo de percussão Afro no Quilombo Mocambo em Porto da Folha, do grupo Oiteros Arte Viva em Gararu e dos Grupos Mistura Nordestina e Raízes Mirim em Sítios Novos, Poço Redondo.

Em 2015 tiveram o apoio do Programa Semear (IICA/FIDA/AECID) para montagem e circulação do espetáculo “O Segredo do Poço Redondo”.
Por meio de editais, já tiveram projetos apoiados também pelo Banco do Nordeste (BNB); pela Secretaria Estadual de Sergipe; pela Petrobras, pelo Ministério do Meio Ambiente e pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário, entre outras entidades.

Quem apoia

Esta experiência conta com o apoio do Movimento de Pequenos Agricultores Rurais (MPA) e da Prefeitura de Poço Redondo. Por meio de editais, muitos artistas e outras organizações governamentais e não governamentais já apoiaram as atividades da Acrane.