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B Boas Práticas na Convivência com o Semiárido

Criação Animal
Alimentação animal – Ensilagem
O que é

O casal de agricultores Cleoberto Teodósio de Souza, mais conhecido como Seu Dóia, e Erivan Xavier de Souza Teodozio não precisa mais comprar ração para alimentar o rebanho, lá no Sítio Curral Velho, em Santana dos Garrotes, no Semiárido da Paraíba.. É que eles aprenderam os benefícios da ensilagem e não querem mais parar.

Hoje, eles mantém 16 ovelhas e 12 reses utilizando o método que ensinam até para grandes proprietários. “É o pequeno ensinando para o grande. Agora, a gente sabe que sabe e pode ensinar também”, conta Seu Doia.

A ensilagem é a produção de silagem, um tipo de alimentação animal feita a partir do processamento de plantas forrageiras por bactérias anaeróbias, ou seja, que não precisam de oxigênio para se desenvolver. A prática é agroecológica e contribui para a conservação do solo, garantindo uma alimentação saudável para os animais e, consequentemente, para a família.

Em períodos de seca, a silagem pode substituir o pasto. “É um alimento que a gente sabe que é de qualidade, porque foi a gente mesmo que produziu”, explica Doia.

Ao produzir alimento orgânico para o gado, o agricultor busca compartilhar o aprendizado. “A prática vem acontecendo aqui porque a gente vem trabalhando em grupo. São dez agricultores engajados e estamos nos organizando para comprar a máquina forrageira”, diz.

Municípios Atendidos




Experimentador
Cleoberto Teodósio de Souza (Seu Dóia) e Erivan Xavier de Souza Teodozio

Cleoberto Teodósio de Souza, ou seu Dóia, como geralmente é chamado, nasceu em Aroeiras, na Paraíba. Por lá viveu 20 anos. Desde então, mora em Santana dos Garrotes, Zona Rural de Patos, sertão do estado.

Fale com o Experimentador

Cleoberto Teodósio de Souza (Seu Dóia) e Erivan
(83) 999-64-2315

Informações sobre a experiência

Já são mais de duas décadas nessas terras, onde trabalha como agricultor, produzindo para consumir e vender.

Ele também cria animais como galinhas, porcos e gado. Além disso, presta serviço auxiliando no preparo da silagem em propriedades próximas e até para grandes proprietários. “É o pequeno ensinando para o grande. Agora a gente sabe que sabe e pode ensinar também”, comemora Seu Dóia.

Sua esposa, Dona Erivan, concilia os trabalhos domésticos com as atividades do campo. Ela cuida dos pequenos amimais e contribui para a venda de produtos como queijo e leite em comunidades vizinhas e feiras.

Como funciona a experiência

A silagem é uma fonte de alimento para rebanhos no Semiárido. Seu Dóia, por exemplo, a utiliza com grãos e farelos durante a engorda de animais em confinamento.

Quando produzido corretamente, o valor nutritivo do preparo fica igual ao da forragem verde, que é um alimento natural para cabras, ovelhas, gado bovino de leite e carne, cavalos, porcos e coelhos.

Para que o preparo dê certo, é preciso que as plantas forrageiras processadas sejam colocadas no silo e fiquem compactadas e protegidas da entrada de ar. A vedação é parte fundamental para a fermentação anaeróbica, que transforma a forrageira em silagem.

No preparo, Seu Dóia utiliza cana-de-açúcar para dar sabor, sorgo, milho e folhagem da plantação de arroz. De tudo se aproveita, garante: “Aqui a gente não vai perder nada da produção do arroz. O grão é para a nossa alimentação e a palha vai virar forragem para alimentar o gado e também serve de cobertura seca para o solo. A palha do arroz a gente traz lá do abatedouro e joga no carrasco para ela não pegar a umidade do baixio, quando chove. O gado gosta mais da folhagem do arroz do que do capim por conta do sal que tem na palha”.

Ele também tem uma estratégia para melhor alimentar o rebanho, transformando-o num parceiro também na hora de recuperar o ambiente.

O gado colocado na divisa de pastagem, por exemplo, pode ajudar a recuperar aquela área. “Outra coisa bem melhor é que rende bem mais a pastagem. Aqui tem os piquetes, que é como a gente chama do jeito popular, que é como eu faço para dividir a área de pastagem”, ressalta Seu Dóia.

Assim, com o pastejo rotacionado, ele faz o controle de quantos animais ficam em cada piquete. Isso contribui para que forragem disponível seja consumida de forma homogênea.

O agricultor também promove um rodízio entre os animais, para garantir que o “solo se mantenha vivo”. Dessa forma, as fezes do rebanho ajudam a adubar a terra.

Implementar

Para o processo de ensilagem, é bom ter folhagem, máquina forrageira e gente para ajudar.

Na experiência de Seu Dóia, por exemplo, a máquina, por enquanto, é emprestada. Um mutirão ajuda com a mão de obra, num trabalho compartilhado. Enquanto homens preparam a ensilagem, mulheres preparam o almoço e organizam a hospedagem dos trabalhadores.

O silo produzido por Seu Dóia tem até 1,20 de altura e largura de 3 metros. Para cada produção, providencia: 12 litros de óleo diesel para movimentar a máquina forrageira, 12 metros de lona 8m x 10m (200 micras) para fazer a cobertura do silo; 60 kg de sal e almoço para cerca de 10 pessoas, que o ajudam na empreitada.

Dóia explica o passo a passo que utilizou para implementar a ensilagem na propriedade onde vive.

Veja só:

1º passo – Plantar capim, sorgo, milho, cana-de-açúcar e outras forrageiras. Quando o capim está com 1,5m, pode ser cortado.

2º passo – Triturar as plantas cortadas na máquina forrageira.

3º passo – Escolher um lugar protegido da chuva e umidade para montar a ensilagem em camadas:
Primeira camada – forragem
Segunda camada – cana-de-açúcar
Terceira camada – sal
Quarta camada – forragem

4º passo – Compactar a forragem, pisando em cima. Chame os amigos para ajudar!
Vale frisar que Seu Dóia faz parte de um grupo de 10 agricultores que se revezam nas terras um dos outros para produzir a silagem. Esse trabalho coletivo faz toda a diferença!

5º passo – Cavar uma vala de 10 a 12 centímetros de profundidade em volta da silagem. Ela serve para escoar a água da chuva, protegendo a silagem da umidade.

6º passo – Cobrir a silagem com uma lona, esticando com cuidado para não furar. Em seguida, tirar todo o ar e só depois fechar, prendendo a lona embaixo da forragem.

7º passo – Jogar terra por cima, cobrindo bem. A cobertura protege de animais e do sol.

Finalizadas as etapas, é preciso esperar 30 dias para que ocorra a fermentação. Enquanto isso, a recomendação é não mexer na silagem.

Se quiser usar o preparo aos poucos, Seu Dóia dá a dica: “abre uma parte da lona e tira a fatia que quer usar, de acordo com o planejamento feito. Aí, cobre de novo com a lona para não deixar entrar ar. Se quiser, pode botar mais um pouquinho de terra por cima da lona para garantir”.

A partir desse método é possível armazenar a forragem por até cinco anos.

Adiantou de quê?

Sem a ensilagem estava difícil para Seu Dóia manter o gado. Hoje, conseguiu até aumentar o número de animais sem precisar comprar ração, alimentando o rebanho com a silagem que ele mesmo produz.

Com cada vez mais autonomia, ele e Dona Erivan dizem que a ensilagem melhorou as condições de vida e que agora estão “livres do agronegócio”.
A alimentação da família também melhorou. Vale lembrar que a qualidade da alimentação animal reflete na qualidade do que é consumido pela família e pelos consumidores, no caso do que é comercializado.

A renda mensal cresceu. E isso não é um movimento isolado.

Outros agricultores de Santana dos Garrotes estão se fortalecendo por meio de ações conjuntas que viabilizam a produção da silagem. Os mutirões são parte fundamental do processo e dão fôlego ao desenvolvimento rural da região.

Seu Dóia quer ver outras pessoas no mesmo caminho. “Eu fico sempre incentivando os outros, quero passar para os outros a prática que eu tenho na minha roça hoje para cada um ir se organizando”, ressalta.

Desenrolar da História

Foi em 2014 que Seu Dóia teve contato com a prática da ensilagem. Naquele ano, participou de capacitações realizadas pela Ação Social Diocesana de Patos, via Programa de Promoção e Ação Comunitária (Propac). “Eu não tinha esse conhecimento antes. Gastava muito dinheiro comprando ração para alimentar o gado. Como não plantava as forrageiras, no período de estiagem eu não tinha forragem”, lembra.

Além de Seu Dóia, participaram da capacitação outros quatro agricultores. Um ano depois, o número era bem maior: 20 aderiram. A partir daí, começaram a plantar capim, sorgo, milho, entre outras plantas forrageiras, utilizadas como matéria-prima para a silagem.

A experiência com o agricultor foi a primeira a ser desenvolvida pelo Propac em Santana dos Garrotes. De exitosa que está, tem inspirado outros agricultores.

Seu Dóia vem avançando na adoção de práticas agroecológicas. Comprometido em buscar melhores alternativas de convivência com o Semiárido, ele não faz uso de nenhum tipo de veneno. “Tudo é tirado da terra e é nós que planta e nós que colhe”, conta, orgulhoso. Em sua propriedade, cria bovinos de forma consorciada com a plantação de arroz vermelho. Tem 16 ovelhas e cerca de 12 reses de gado.

O aprendizado vem em meio a dificuldades: “A seca é que tá ensinando a gente trabalhar”. Atualmente, são 10 famílias que desenvolvem práticas agroecológicas na criação animal, por meio de tecnologias de convivência com o Semiárido como a produção do silo.

“Os vizinhos já estão pegando a prática”, diz Seu Dóia.

Essa iniciativa contribui, também, para dar fim com a ideia de que produzir silagem é caro e inviável para pequenos produtores. Um dos diferenciais da pecuária com base agroecológica é que o animal é parceiro do agricultor no processo de recuperação do ambiente.

Quem apoia

Esta experiência conta com o apoio do Centro Semear, em parceria com a Ação Social Diocesana de Patos, por meio do Programa de Promoção e Ação Comunitária (Propac).

Contatos:

Centro Semear
(83) 3423-2206

http://www.centrosemear.org

Ação Social Diocesana de Patos/ Programa de Promoção e
Ação Comunitária (Propac)
(83) 3423-2206

http://www.asdppb.org

asdpcomunicacao@gmail.com / propac@uol.com.br