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A Ações e Projetos

Encontro com Agentes Comunitários Rurais reflete impacto das inovações sociais nas comunidades

12/12/2019

A participação mais efetiva das mulheres e dos jovens nas atividades do Pró-Semiárido nas comunidades rurais, foi um dos destaques apontados pelos Agentes Comunitários Rurais (ACRs), durante o Encontro que aconteceu entre os dias 02 e 06 de dezembro, no Centro Diocesano em Senhor do Bonfim. Na ocasião, eles e elas citaram as principais inovações sociais e seus impactos para a vida dos beneficiários do projeto, à exemplo da participação maior de mulheres em grupos de interesse de criação de caprinos e abelhas; interação entre as comunidades, representação feminina nos espaços de decisão e inserção e interesse dos jovens em participar das atividades. 

Para a assessora de políticas públicas do Pró-Semiárido do Setaf de Juazeiro, Jussara Oliveira, a inserção dos ACRs como apoiadores das atividades do Pró-Semiárido tem contribuído para o sucesso da ação, dentre outros motivos, pela valorização da juventude que vive nas comunidades assessoradas. “O trabalho dos ACRs, que são filhos e filhas de agricultores, é uma inovação para o Estado da Bahia. Eles são os porta-vozes das comunidades porque sabem e falam a mesma língua das comunidades”.

O grupo refletiu também sobre temáticas como agroecologia, tecnologias sociais, comercialização de produtos, meio ambiente, equidade de gênero, fortalecimento organizacional, entre outros. “O Pró-Semiárido tem que ser o incentivo para que as comunidades caminhem com seus próprios passos. Se os jovens não assumirem, desde já, não teremos como garantir o fortalecimento organizacional das nossas comunidades e o Pró-Semiárido é esta semente”, explicitou o ACR Vilson Bispo, da comunidade Fazenda Alegre, município de Itiúba.

Além das inovações e das temáticas, o encontro realizado pela Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (CAR) através da Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR), no âmbito do projeto Pró-Semiárido que tem financiamento do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (Fida), destacou ainda a importância dos intercâmbios como processos metodológicos de construção e valorização dos saberes.

O Encontro Geral dos Agentes Comunitários está na sua sexta edição. “Chegou o momento de valorizar o intercâmbio, pois ele é um instrumento importante de capacitação. É aquela velha história, uma imagem vale mais do que mil palavras. Se deslocar, ver, experimentar faz toda diferença”, ressaltou Samuel Lyra, subcoordenador de capital humano e social do Pró-Semiárido e organizador do evento.

Neste sentido, alguns dos ACRs foram provocados à partilhar as experiências que trocaram por meio da participação em intercâmbios, foi o caso dos jovens Leonardo Cruz e Lucas Castro que fizeram um resumo sobre a participação deles no III Intercâmbio de Saberes nos Semiáridos da América Latina, e falaram, ainda, sobre os aprendizados e trocas.

Troca de saberes – O Agente Comunitário Rural (ACR) Edinei Antunes atua nas comunidades Suvela, Mandú, Vila Aparecida e Pimenteira, no munícipio de Remanso. Edinei queria aprender e ensinar às agricultoras e aos agricultores da sua região novas formas de utilização do solo, menos agressivas à natureza. Presente no Encontro Geral dos Agentes Comunitários Rurais, ele teve a oportunidade de fazer parte do intercâmbio que visitou uma propriedade familiar, em Grota da Mata, município de Campo Formoso e trocar experiências sobre as tecnologias utilizadas pela família, a exemplo do SAF- Sistema Agroflorestal. 

O SAF, dentre outras técnicas, utiliza matérias mortas para forrar o pasto, formando uma camada de proteção e fornecendo nutrientes ao solo. Esta técnica substitui as queimadas para formação de pastagem, ainda comuns no semiárido.  Vou promover rodas de aprendizagem para dividir o conhecimento que absorvi. Aos poucos, vamos mudando o pensamento dos agricultores, provar que não precisa fazer queimadas e que há outras possibilidades”.

Depois que conversou com os moradores do entorno da Grota do Gelo, em Mirangaba, a ACR Angelina Santana, não vê a hora dividir o aprendizado adquirido na área do “Ecoturismo e Turismo Comunitário” com as comunidades em que trabalha. O intercâmbio despertou nela o interesse em buscar meios para dar visibilidade às riquezas naturais do seu município e incentivar o desenvolvimento de mais uma fonte de renda para os agricultores e agricultoras. A rota turística que leva até a Grota do Gelo já conta com guias profissionais, possibilidade de hospedagem em casas da própria comunidade e a alimentação orgânica fornecida é preparada pelos próprios moradores.

A resistência do povo quilombola do território Lages dos Negros, em Campo Formoso, encantou o grupo que escolheu aprender mais sobre “Identidade Cultural”. Nos relatos dos participantes, o trabalho das professoras para fortalecer a identidade negra nas crianças e o respeito à ancestralidade chamaram atenção. “Jamais vou esquecer as palavras do morador mais velho de lá: ‘no dia que o branco não adoecer, não sangrar, não morrer’, aí vou querer ser branco”, relembrou a ACR Tatiana Souza. A ACR mora e trabalha no território quilombola Boca do Mato, em Mirangaba. “Irei conversar com as famílias sobre Lages dos Negros, para que o sentimento de pertencimento a essa raiz seja fortalecido”.

Em Massaroca, Juazeiro, o sistema produtivo para beneficiamento de ovos surpreendeu o grupo que escolheu o tema “Tecnologias Sociais”. A agroindústria instalada na comunidade já fornece 1200 ovos diariamente e a meta é chegar a 2500. Os ACRs conheceram todas etapas do processo, desde a coleta dos ovos nos quintais até a comercialização. “Eu tinha a preocupação de como orientar as comunidades sobre o escoamento da produção de ovos, pois o Pró-Semiárido já instalou 48 viveiros na minha região e precisamos incentivar os agricultores e agricultoras, a agregar valor e dar saída à produção”, pontuou Clécia Almeida, ACR do município de Jacobina.

Os ACRs conheceram ainda os manejos adotados na avicultura, caprinocultura, bovinocultura, suinocultura, curtinocultura, cunicultura, a produção de ração, além da agroindústria do Instituto Federal Baiano (IFBA), em Senhor do Bonfim; os agentes visitaram também a feira orgânica e agroecológica instalada na cidade e organizada por agricultoras e agricultores do município.