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B Boas Práticas na Convivência com o Semiárido

Gestão das Águas
Horta-mandala
O que é

“Mandala é uma mãe que sustenta a família”. Assim, o agricultor Valter Francelino Pereira, conhecido como Seu Pelé, se refere à horta-mandala, tecnologia social que alia produção agroecológica de alimentos e criação de peixes e aves.

Com ela, os plantios são feitos de forma circular e consorciados entre si. Ao centro, um tanque de água para os animais. A mandala de Seu Pelé, no Semiárido do Ceará, tem seis deltas produtivos, com nove canteiros cada um. São 54 canteiros, sendo que 30 estão sendo cultivados. No tanque, ele cria tilápia para alimentação da família.

Nas terras do agricultor, tem diversificação produtiva e alimentação saudável. O solo está mais fértil para plantar couve-manteiga, alface, tomate-cereja, beterraba, pimentão, entre outras variedades. Acelga e brócolis são as novas apostas de Seu Pelé, que quer saber como elas funcionam de forma consorciada com os demais plantios.

Foi caminhando rumo à agroecologia que o agricultor e sua esposa, Dona Marta, conseguiram ter uma horta-mandala associada à construção de uma cisterna calçadão: “O importante da agroecologia são vários fatores. Não é só deixar de usar veneno. Agroecologia é vida. Tem que cuidar do rio, das margens, dos pássaros, da terra, do lixo, não queimar”, diz o agricultor.

Seu Pelé e Dona Marta avisam que a mandala exige muita dedicação e paciência. A boa notícia é que traz resultados rápidos. E dos bons!

Municípios Atendidos




Experimentador
Valter Francelino Nogueira (Seu Pelé) e Marta dos Santos Viana

Vem dos tempos de infância, quando “adorava jogar uma bolinha”, o apelido de Pelé, como é conhecido o agricultor Valter Francelino Nogueira.

Fale com o Experimentador

Valter Francelino Nogueira (Seu Pelé) e Marta dos Santos Viana
(85) 9 9760-8200

Informações sobre a experiência

Ele e sua esposa, Dona Marta dos Santos Viana, são agricultores familiares e vivem junto com quatro filhos no Sítio Iú, num terreno de seis hectares, em Capistrano, no Semiárido do Ceará.

Pelé é associado à Cooperativa de Agricultura Familiar de Capistrano e produz de forma agroecológica. “Você fazendo as coisas sozinho é ruim, mas tendo uma entidade, um grupo, é mais fácil de trabalhar, acessar projetos”, enfatiza.

Dona Marta cuida dos canteiros, das galinhas e das tarefas domésticas. Ela também elabora produtos para serem comercializados.

Há cinco anos, a família participa da Feira do Benfica, importante espaço de comercialização de produtos agroecológicos em Fortaleza.

Há três anos comercializam para o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e há um ano para o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE).

Como funciona a experiência

A tecnologia funciona como um sistema composto por canteiros ao redor, dispostos de forma circular. No centro, fica um tanque que contribui para o solo e para a criação de animais como peixes, patos e marrecos. Seu Pelé, por exemplo, cria peixes.

“É tipo uma bacia. Você cava o buraco, bota uma tela. É por cima da tela que constrói o tanque. O daqui tem seis metros de diâmetro e 1,80m de fundura”, conta Seu Pelé.

O consórcio de diferentes culturas é fundamental para o bom funcionamento da horta-mandala.

Sabendo disso, o agricultor faz experimentações constantes para promover a rotação de plantios. Por lá, o tomate-cereja fica sozinho, enquanto o alface, a couve e o pimentão são cultivados de forma consorciada, por exemplo.

O agricultor experimentador destaca a importância dos cuidados com o solo. “O que dá praga na planta é o solo fraco”, diz. Vale reforçar que a rotação de culturas contribui para evitar e combater pragas.

No Sítio Iú, ele aduba a terra com uma mistura que prepara. Nela tem esterco de gado, cinzas do fogão à lenha, restos de frutas e legumes.

Em seguida, Pelé coloca a cobertura seca, feita de folhas e galhos finos secos.

Segundo ele, sempre é possível melhorar. Entre os caminhos estão a ampliação dos deltas produtivos e das espécies que são cultivadas, a melhoria do sistema de irrigação e a possibilidade de investir na fruticultura orgânica.

A água é fundamental para o funcionamento da horta-mandala.

Nas terras de Seu Pelé, um poço fornece a água utilizada no tanque dos peixes, que alimenta o sistema de irrigação por gotejamento nos canteiros.

“A irrigação era por cima. Eu mudei pra gotejamento porque, se eu aguasse por cima, ia queimar a planta por causa da água daqui”, conta.

Implementar

Horta-madala passo a passo

1. Escolher um lugar plano e fazer uma limpeza geral da área, com enxadões e rastelos. Seu Pelé diz que é melhor, de preferência, ter “árvores por perto para mandar oxigênio para as plantas”.

2. Definir o tamanho da mandala e desenhar o círculo no chão. Coloque uma madeira no centro e amarre nela um cordão do tamanho do raio do círculo. É só girar o cordão em volta da madeira para marcar o diâmetro do tanque e a distância entre os canteiros.

3. Começar a cavar pelo meio, onde estava a madeira. O bom é cavar inclinado. Seu Pelé usou uma máquina retroescavadeira para otimizar o tempo.

4. Com o buraco aberto, chegou a hora de erguer as paredes e as bordas, posicionando uma tela de galinheiro nesses locais para ajudar na aderência do concreto ao solo. Em seguida, fazer a base do tanque com cimento, areia e tijolo e rebocar.

5. Depois que estiver seco, encher de água e colocar os peixes.
O sistema de irrigação da horta-mandala de Seu Pelé é feito com canos de PVC e mangueiras. No centro do sistema, o agricultor colocou uma “aranha”, peça que liga os canos que estão dentro do tanque às saídas de água que irrigam os canteiros.

Vale dizer que cada saída pode irrigar vários canteiros de uma vez. O sistema é acionado por uma bomba elétrica de ½ CV.

Sobre a manutenção, Seu Pelé ensina: “Tem que tá dentro direto, de segunda a segunda”.

Entre as orientações, estão:

  • Limpar o terreno diariamente;
  • ligar a bomba para oxigenar o criatório de peixes;
  • Checar o sistema de gotejamento para conferir se não há nenhum cano entupido ou furado;
  • Limpar as cisternas e a caixa d’água elevada a cada seis meses;
  • Trocar toda a água do tanque de criação dos peixes e fazer a limpeza do tanque uma vez ao ano. Seu Pelé utilizada a água retirada para regar os canteiros.
  • Checar diariamente os canteiros para ver se é preciso aplicar mais defensivo natural e conferir a umidade da terra;
  • Trocar a cobertura seca a cada dois dias;
  • Sempre que uma plantação é colhida, prepare o canteiro para receber a nova cultura. “Eu reviro o canteiro todinho, boto o estrume, a cobertura morta e aí boto a muda”, ensina Pelé.
Adiantou de quê?

Com a horta-mandala a família de Seu Pelé tem mais segurança alimentar, uma vez que o agricultor, sua esposa e filhos podem se alimentar de peixes, hortaliças e legumes produzidos na própria horta.

Adotar a tecnologia foi bom também porque permitiu um aumento na renda familiar. A produção excedente é comercializada em feiras agroecológicas e por meio do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE).

Para o PAA são comercializados pimentão, couve, alface e tomate cereja, numa média de 11kg de alimentos por semana. A família também vende na Feira do Benfica, que acontece quinzenalmente, em Fortaleza.

A experiência de Seu Pelé tem inspirado projetos semelhantes na região. Prova disso é que a família recebe, frequentemente, agricultores para intercâmbios em sua propriedade.

Isso sem dizer do solo. A qualidade melhorou muito. Em 10 anos de transição agroecológica, a família de Seu Pelé pode desfrutar de um solo rico em nutrientes.

Desenrolar da História

A falta de água foi a primeira dificuldade enfrentada pelo agricultor. Sem ela, a horta-mandala não funciona em sua totalidade.

No início, era no açude do pai, distante de casa, que conseguia encher os baldes para abastecer a tecnologia.

Com o passar do tempo, construiu um cacimbão. Para manter o sistema funcionando, Seu Pelé conta também com a ajuda da família, já que não tem recursos para contratar quem possa auxiliá-lo nas tarefas. “Aqui é assim: todo mundo junto trabalhando”, diz.

No Sítio Iú tem divisões de tarefas e o entendimento do papel de cada um para que o sistema funcione. Seu Pelé conta que os filhos mais velhos vão aprendendo na prática e “tomando gosto” pela agroecologia.

Dona Marta participa ativamente. Ela prepara bolo de milho, doce de caju e mamão para fornecerem à Escola de Capistrano, por meio do Programa de Aquisição de Alimentos. Para comercializar na Feira, produz alimentos como bolo de aipim e doce de mamão, além do coloral, feito a partir da trituração manual do urucum.

É dela também a tarefa de cuidar da farmácia viva que a família mantém. Capim santo, alfavaca, cidreira, hortelã, estão entre as ervas que podem ser encontradas por lá.

A comercialização do excedente, que incrementa a renda familiar, se deve, muito, à capacidade de articulação de Seu Pelé.

Vale dizer que a organização em cooperativa facilita o acesso às feiras, assim como a projetos que podem contribuir com a melhoria das práticas e, consequentemente, com a qualidade de vida de famílias sertanejas.

O trabalho associativo também fortalece os agricultores e contribuem para a inserção deles no mercado agroecológico.

A agroecologia, por sua vez, tem presença forte na vida de Pelé, que possui outras tecnologias de convivência com o Semiárido na propriedade onde vive. Além da horta-mandala e do poço, ele e sua família possuem uma cisterna calçadão de 52 mil litros e uma cisterna de placas de 16 mil litros.

Quem apoia

Esta experiência conta com o apoio do Instituto Antônio Conselheiro (IAC).

Contato:

Instituto Antônio Conselheiro (IAC)
(88) 3441-1824

http://www.iacceara.com.br

iac@iacceara.com.br