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B Boas Práticas na Convivência com o Semiárido

Organização Comunitária
Associativismo quilombola

Serra dos Paulos, comunidade quilombola de Parambu (CE).

  

O que é?

Vamos conhecer a história exitosa da Associação dos Pequenos Produtores de Serra dos Paulos, fruto de uma comunidade quilombola.

Dentre as conquistas mais importantes alcançadas pela associação ao longo de sua existência, e que a torna um exemplo a ser seguido, podemos citar: o trabalho solidário, a organização e união das famílias, e a fixação do homem e da mulher no campo – com a permanência do núcleo familiar.

Através da cultura da mandioca e do caju, a comunidade conquistou melhoria de renda e qualidade de vida. Vamos a seguir entender como isso aconteceu e conhecer algumas delas, mais especificamente, as mudanças positivas alcançadas pela família do Seu João, um dos membros da comunidade.

Onde aconteceu?

 

A Associação dos Pequenos Produtores de Serra dos Paulos surge de uma comunidade quilombola no município de Parambu, no estado do Ceará.

 

Como aconteceu?

A associação dos Pequenos Produtores de Serra dos Paulos (Apespa) foi fundada em 1993 com intuito de organização. Necessitando proporcionar melhores condições de vida para suas famílias, buscaram ações governamentais que beneficiassem sua comunidade.

A associação apresentava certa organização, porém precisava avançar quanto à importância do associativismo e, além disso, necessitava de orientação técnica na produção de mandioca e caju para que possa alcançar maior produtividade. Nessas questões, a Dona Zilma Pereira Mota, foi uma das grandes mobilizadoras e incentivadoras para que a associação se fortalecesse.

Assim, através desse fortalecimento, e de conquistas e parcerias, os moradores do quilombo passaram a cultivar mais e melhor, e a beneficiar a mandioca de diversas formas, tanto para o consumo como para vender na comunidade, a exemplo do sorvete de mandioca, doce, bolo e pastel, usando da criatividade para ampliar a culinária.

 

Como implementar?

Serra dos Paulos vive praticamente da agricultura de sequeiro e subsistência. O município de Parambu, mais especificamente na região serrana, tem como importante fonte de renda o cultivo da mandioca, sendo essa produção absorvida pela própria região.

Os quilombolas cultivam mandioca desde seus antepassados, combinando o conhecimento da cultura e das condições de solos. Para aumentar a geração de renda, a comunidade foi contemplada com uma casa de farinha pelo Projeto São José; os produtos – farinha e goma – são comercializados nas redondezas.

Porém, a cultura da mandioca sofreu muito com a seca nos últimos anos. E a produção de caju, que também faz parte do cultivo da agricultura familiar da Serra dos Paulos, encontra na região serrana solos arenosos adequados para o desenvolvimento da espécie com boa produção de frutos. Assim se solidificou também essa cultura, com as primeiras mudas adquiridas pelos próprios produtores, a partir da reorganização da associação dos moradores.

Obtendo resultados significativos com o caju, foi possível complementar os ganhos financeiros dessas famílias que possuem pomares. A geração de renda se dá pela venda da castanha no mercado local e para compradores da região. Contudo, muito apreciado pela população, parte da colheita acaba consumida in natura e em forma de doces pelos moradores. Rica em vitamina C, a fruta complementa a alimentação da comunidade.

Contudo, os pomares de caju precisavam ser revitalizados, pois possuiam falhas de plantas nas áreas de cultivo, ocasionadas pela morte dessas frutíferas devido às condições adversas enfrentadas nos últimos anos pela região. Daí se evidência a importância de adotar critérios técnicos no manejo.

Nesse contexto, a Comunidade Quilombola de Serra dos Paulos começa a receber acompanhamento de assistência técnica continuada (ATC) em 2015. O conjunto de ações chega por intermédio do Projeto Paulo Freire (PPF) no âmbito da Secretaria do Desenvolvimento Agrário (SDA) do Governo do Estado do Ceará, com apoios do Fundo Internacional para Desenvolvimento Agrícola (FIDA) e do Instituto Interamericano de Coope – ração Agrícola (IICA).

A ATC tem por finalidade revitalizar a cultura da mandioca e ampliar a área de cajueiro-anão precoce, contribuindo para elevar a renda das famílias e garantir a segurança alimentar da comunidade.

 

Parcerias que vieram para somar!

Caprinovinocultura desenvolvida na região de Serra dos Paulos.

 

Com conhecimento adquirido através das diversas oficinas sobre manejo de mandioca, caju e comercialização, além das atividades agrícolas de sequeiro e subsistência, foi possível aos moradores do distrito de Monte Sion investir nas terras, aumentar o rebanho, plantar e colher tanto para própria subsistência como para a comercialização.

O projeto chega no momento em que a comunidade vive de forma desorganizada e descolada do associativismo construído por seus antepassados. A vinda do PPF elevou a renda das 36 famílias pertencentes à associação, composta de homens, mulheres e jovens.

O acompanhamento e os recursos garantidos para iniciar os primeiros passos do projeto deram fôlego à comunidade para acreditar que é possível conviver e permanecer no Semiárido. As famílias foram orientadas a plantar, criar animais, colher e comercializar para gerar renda e, com isso, proporcionar maior qualidade de vida aos jovens e mulheres que residem no local.

 

O que mudou?

O projeto de revitalização da mandioca e caju vem impactando de forma significativa a vida das famílias, em especial a de Seu João, além de gerar renda com a produção agroecológica e contribuir para segurança alimentar. Vamos conhecer algumas dessas mudanças:

  • Com conhecimento adquirido através das diversas oficinas sobre manejo de mandioca, caju e comercialização, foi possível aos moradores do distrito de Monte Sion investir nas terras, aumentar o rebanho, plantar e colher tanto para própria subsistência como para a comercialização. O incremento e a troca de conhecimentos proporcionam aos quilombolas maior produção e diversidade nos negócios da sua comunidade.
  • Antes dos investimentos do PPF, muitas famílias plantavam e criavam animais apenas para consumo próprio, a exemplo do que acontecia na casa do João Gualberto de Sousa. Eles possuíam três cabeças de ovinos, dezenove cabeças de caprinos, quatro cabeças de suínos, 35 cabeças de aves, e plantava milho, feijão, mandioca e caju apenas para o consumo. Hoje, planta e cria animais para consumo e comercialização, e diversifica a sua produção.
  • Em parceria com o PPF, ele também recebeu 8 kg de milho e 8 kg de feijão de sementes crioulas para plantio, através da Agência de Desenvolvimento Agrícola (Adagri), além de 204 mudas de caju-anão pelo Plano de Investimento (PI) da comunidade. O Programa Hora de Plantar também obteve 5 m³ de sementes de mandioca (maniva) para o plantio de um hectare.
  • Através dos recursos diretamente oriundos da produção e comercialização agropecuária da unidade familiar, seu João Gualberto pôde comprar 25 tarefas de terra no valor de R$ 5.000,00, além de reformar a cozinha da família por R$ 4.500,00 (quatro mil e quinhentos).
  • Com recursos da venda de dois terrenos, recursos da aposentadoria do seu João, dentre outros, foram construídos dois reservatórios de água de uso de 1ª e 2ª água no valor de R$ 4.500,00 (quatro mil e quinhentos). Cada um dos reservatórios tem capacidade de 35 mil litros.
  • Entre 2016 e 2018, puderam comprar mais calhas para as cisternas, no valor de R$ 600,00, incluindo a mão de obra e a confecção. Adquiriram ainda 280 m de mangueira e três bolas de arame, de 500 m cada, com o intuito de encanar água para o piquete de pastagem dos caprinos.
  • No ano de 2018 chega à Associação um investimento de R$ 368.298,50. Desse valor, a unidade familiar de seu João Gualberto e esposa foi contemplada com 32 cabeças de caprinos.
  • A produção agropecuária vem garantindo a soberania alimentar da família. Com isso, podemos constatar o aumento na geração de renda de Seu João e sua família, e o mesmo se deu com outros membros da comunidade quilombola em que estão inseridos.

Através da trajetória construída pela comunidade quilombola e pela família do Seu João e da Dona Zilma – citados acima, – é possível concluir que a convivência com o Semiárido é possível sim, através do planejamento, e da troca de saberes entre as comunidades locais e as entidades de assistência técnica.

Respaldados por parcerias entre o governo e entidades financiadoras, podem transformar a vida no Semiárido e proporcionar à agricultura familiar ferramentas de formação e conhecimento de como produzir mais para ampliar sua renda.

Através da combinação de saberes tradicionais às práticas modernas, se renovou a esperança e a alegria da vida no campo!

 

Quem faz a experiência?

Essa é a experiência da Associação dos Pequenos Produtores de Serra dos Paulos, localizada no município de Parambu/CE.