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B Boas Práticas na Convivência com o Semiárido

Produção Agroecológica
Cozinha coletiva

As margaridas durante o processo de produção dos alimentos que serão enviados à merenda escolar. 

 

O que é? 

Queremos te apresentar a história das Margaridas, grupo de mulheres da Paraíba, que buscando alternativas de trabalho e renda para além da agricultura, tiveram a ideia de construir uma cozinha coletiva. A partir de então, passaram a produzir alimentos para venda na vizinhança, em eventos e também através do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), que adquiri os produtos para que sejam usados na merenda escolar.

E como você vai ver a seguir, essa experiência nos traz um grande exemplo de luta e organização social e política, fatores decisivos para promover a autonomia desse grupo de mulheres, que teve a persistência e a inovação como parte da sua descoberta e do florescer de suas ações.

 

Onde aconteceu?

 

A experiência das Margaridas vem do Assentamento Oziel Pereira, que fica a quatro quilômetros do município de Remígio, no estado da Paraíba.

 

Como aconteceu?

A terra onde vivem as Margaridas foi fruto da reforma agrária, conquistada em 1999, depois que passou pelo município a Marcha Nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), sendo assim regularizada e transformada em assentamento. Mas somente em 2003 as mulheres puderam acessar benefícios para a construção das suas casas. Foram quatro anos morando em barracos, “debaixo de lona”, como elas mesmas afirmam.

Pensando em alternativas que melhorassem a sua renda e qualidade de vida, as mulheres passaram a se reunir e inicialmente desenvolveram trabalhos com artesanato, só posteriormente criaram a cozinha coletiva que deu origem ao grupo As Margaridas. O nome foi escolhido em homenagem a Margarida Maria Alves, ex-presidente do Sindicato de Trabalhadores Rurais de Alagoa Grande, na Paraíba, ícone da luta pela garantia dos direitos básicos dos(as) trabalhadores(as) do campo, assassinada em agosto de 1983, depois de receber várias ameaças de morte.

 

Como implementar?

   

À direita, participação das Margaridas em Feira Agroecológica; à esquerda, entrega de uma de suas encomendas. 

 

Aqui vamos falar um pouco de como essas mulheres conseguiram se reunir em grupo, fortalecer unas as outras, desenvolver sua atividade produtiva e alcançar melhorias de renda e de qualidade de vida de uma forma geral.

No início de suas atividades, As Margaridas encontraram várias dificuldades. Uma delas foi a falta de um espaço adequado para a produção, pois nesse período usavam as cozinhas de suas próprias casas, com fornos domésticos e sem os devidos equipamentos para o preparo em larga escala. Somado a isso, também enfrentaram o preconceito com a produção orgânica advinda de assentadas do Movimento Sem Terra, o que dificultou a comercialização para merenda escolar da região.

Mas mesmo com os empecilhos, elas não desistiram!

Se organizaram e se fortaleceram em um grupo de mulheres, trocando ideias, planejando as ações e apoiando unas as outras.

Assim, começaram a produzir alimentos de forma coletiva, usando a estrutura que possuíam: suas próprias casas, cozinhas e utensílios. Buscaram oferecer seus produtos à prefeitura, para que pudessem integrar a merenda escolar, e assim conseguiram comercializar seus produtos para as escolas municipais da região, mas por enfrentar resistência aos alimentos orgânicos, começaram a desenvolver uma rede de relações com escolas rurais, que eram mais acessíveis ao consumo de produtos orgânicos.

A partir de sua atuação como grupo de mulheres, conseguiram acessar recursos do Fundo Rotativo da Comunidade. Assim puderam comprar os primeiros equipamentos para a cozinha coletiva.

Para potencializar suas ações, as mulheres também buscaram parcerias.

Desenvolveram parcerias com organizações como o Polo Sindical de Borborema, e a Assessoria e Serviços a Projetos em Agricultura Alternativa (AS-PTA), além do Projeto Cozinha Verde, que tem como eixo a alimentação segura e nutritiva, a emancipação econômica de mulheres em situação de vulnerabilidade socioeconômica, e a agroecologia de base familiar.

Em 2015, conseguiram apoio do Projeto de Desenvolvimento Sustentável do Cariri, Seridó e Curimataú (Procase), com cofinanciamento do FIDA. Com isso, ampliaram o espaço usado na produção, além de construir um outro espaço para montarem uma lojinha e comercializarem os produtos. Com esses recursos, também adquiriram equipamentos e utensílios como: fogão industrial, forno, freezer horizontal, moinho industrial, liquidificador industrial, processador de alimentos, batedeira industrial, mesa em inox, armários, balança digital, bebedouro e refresqueira.

Com apoio do Procase receberam também uma série de capacitações e orientação para melhor desenvolverem o projeto.

O que mudou?

Unidas e buscando contornar as adversidades, as Margaridas conseguiram florescer e colher frutos com a sua iniciativa! Veja alguns deles:

 

  • Hoje, o grupo vende por encomenda tanto para pessoas físicas como jurídicas, produzindo refeições, além de pastéis sem glúten, tapioca de forno, mugunzá, pamonha, canjica, beiju de forno e bolo de confeiteira. Também comercializam pelo Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), e em feiras da região.
  • Com a renda do seu trabalho, elas conseguiram adquirir novos aparelhos eletrodomésticos para suas casas, motos, bicicletas e também animais para aumentar as suas criações.
  • O grupo também participou de capacitações em confeitaria e receberam mulheres de outras localidades para um intercâmbio de mulheres rurais, promovido pelo Procase, em 2017 e, nos dois anos anteriores, duas representantes do grupo participaram do mesmo intercâmbio, em outros municípios, promovendo a troca de experiências.
  • As mulheres vem traçando estratégias para explorar o turismo rural na região, que faz parte de rotas turísticas, como o Caminhos do Frio e a Rota Gastronômica do Brejo. Para isso, foram oferecidas capacitações em produção de compotas e viabilidade econômica. A ideia é que, com o espaço ampliado, As Margaridas possam criar um Bistrô Rural, oferecendo refeições e vendendo artigos da região.
  • Também receberam capacitações destinadas ao processo de licitação, para que a comissão responsável por essa atividade pudesse efetuar as compras previstas no projeto apoiado pelo Procase, o que agregou em termos de autonomia dessas mulheres e sustentabilidade da experiência.
  • Além do ganho econômico, com a reunião dessas mulheres, também conquistaram maior autonomia e empoderamento. Como afirma Adilma, uma das integrantes do grupo, esse momento de reunião das mulheres na cozinha mudou a vida de muitas delas. “Pra nós, o que a gente acha que foi fundamental, foi a questão da participação enquanto mulher, pois muitas eram oprimidas, pra conseguir essa autonomia. Algumas de nós, era da casa pro roçado […] hoje não, a Cozinha foi o momento de força e de libertação para muitas de nós”, destacou.

O grupo as margaridas representa um exemplo de boas práticas de mulheres moradoras da zona rural, e sua história se destaca pela persistência e criatividade no projeto produtivo e comercial que elas vêm desenvolvendo, mesmo diante de todos os desafios enfrentados.

 

Quem faz a experiência? 

Essa experiência foi realizada pelo grupo ‘As Margaridas’ do Assentamento Oziel Pereira, no Município de Remígio/PB.